Doces de mandioca, sorvete artesanal e inovação no Cerrado: conheça a Pé di Gostosura e a trajetória de Marcilene em Goiás.
Após 16 anos atuando no Direito, Marcilene Lúcia Moreira Mariano decidiu mudar radicalmente de vida e seguir um sonho antigo: tornar-se produtora rural em Goiás. O ponto de virada aconteceu após uma gravidez de risco, que a fez refletir sobre propósito e futuro.
Dessa decisão nasceu a Pé di Gostosura, marca de doces artesanais feitos à base de mandioca e frutas típicas do Cerrado.
A propriedade da família possui dez hectares. No início, Marcilene enfrentou muitas dificuldades, já que a área não tinha energia elétrica, água e infraestrutura básica. Para mudar essa realidade, ela começou a vender bolos e doces sob encomenda, inspirada pela avó, que era uma confeiteira de mão cheia.
“Minha avó me ensinou a fazer minha primeira cocada quando eu tinha apenas 9 anos”, relembra.
Com a renda conquistada na venda dos doces, ela investiu em melhorias no sítio, plantou guarirobas (30 mil mudas) e diversas frutas antigas, como laranja da terra, cidra, figo, mamão, abacaxi e batata-doce. Todas essas frutas são hoje utilizadas na produção de doces em conserva, que também fazem parte do portfólio da Pé di Gostosura.
Apesar do sucesso inicial, o grande objetivo de Marcilene sempre foi trabalhar com mandioca. Em parceria com a Embrapa e o Senar, ela iniciou em 2023 o plantio em três hectares, somando 30 mil pés e uma produção de 120 toneladas.
Atualmente, 25% da mandioca é destinada ao processamento e 75% à venda in natura, com aproveitamento total da planta: cascas viram adubo, folhas servem de ração e hastes são replantadas.
A mandioca virou a base para receitas inovadoras, como a palha italiana de mandioca, o sorvete artesanal de mandioca com frutas do Cerrado, bombons e até o mandiocotone (uma versão do panetone feita da raiz). “A ideia era sair do óbvio e criar doces diferenciados, que unissem tradição e inovação”, explica Marcilene.
O desenvolvimento do sorvete levou cerca de um ano e meio até atingir a textura e o sabor ideais. Hoje, a sobremesa já é sucesso em feiras de Goiás, Brasília e Entorno do DF, sempre acompanhada de caldas feitas de frutas regionais, como cagaita, jabuticaba, cajuzinho do mato e amora.
Com foco em sustentabilidade, a produtora aproveita integralmente a mandioca e projeta plantar mais três hectares ainda este ano para chegar a uma safra recorde. O próximo passo é estruturar uma agroindústria em Goiás, gerar novos empregos e ampliar a produção da Pé di Gostosura.
Em parceria com o Sebrae, Marcilene também trabalha a identidade visual da marca e a adequação das embalagens para atender ao mercado formal. O objetivo é conquistar espaço em todo o Brasil e, no futuro, exportar produtos como o sorvete de mandioca e a palha italiana.
Marcilene reforça que a mudança de carreira não é sinal de fracasso, mas de coragem. “Não foi porque o Direito deu errado, mas porque havia em mim outro sonho que pulsava. É possível migrar de carreira, empreender no campo e prosperar. O importante é acreditar, trabalhar e transformar o sonho em realidade”, conclui.