Estratégia busca reduzir riscos geopolíticos, gerar créditos de carbono e fortalecer a autossuficiência agrícola.
Goiás começa a investir nos chamados remineralizadores, conhecidos também como pó de rocha moída, que libera nutrientes essenciais ao solo de forma gradual. Essa alternativa surge como resposta à dependência do Brasil em relação aos fertilizantes russos — produtos que hoje estão sob risco de sanções internacionais.
Em 2024, o Brasil importou US$ 3,38 bilhões em fertilizantes da Rússia, consolidando-se como o maior comprador mundial. Diante desse cenário, Goiás busca reduzir a vulnerabilidade externa. Ao mesmo tempo, fortalecer uma estratégia de longo prazo voltada para a sustentabilidade agrícola e a geração de créditos de carbono.
Recentemente, o governo estadual regulamentou o uso de remineralizadores. Também prevê investir somente neste ano R$ 20 milhões no programa, em parceria com a Tratto Agro, primeira empresa do país a registrar um remineralizador no Ministério da Agricultura e Abastecimento (Mapa).
O programa dois objetivos estratégicos. Primeiro, reduzir riscos geopolíticos, já que Estados Unidos e União Europeia têm sinalizado pressões regulatórias.
No caso americano, há possibilidade de sanções secundárias sobre países que continuam comprando fertilizantes russos. Já a União Europeia pressiona pela diminuição do uso de químicos como glifosato e atrazina.
Além disto, promover ganhos ambientais. Os remineralizadores ajudam a melhorar o balanço de carbono e oferecem um caminho sustentável para aumentar a fertilidade do solo, alinhando-se a tendências globais de descarbonização.
De acordo com o governo de Goiás, o uso dessa tecnologia pode reduzir em até 80% a necessidade de fertilizantes russos. Além disso, a expectativa é que, em cinco anos, o estado atinja a autossuficiência na produção agrícola sem depender de insumos externos.
Entretanto, especialistas alertam que o processo não será simples. Julio Nery, diretor de Assuntos Minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), afirma que os remineralizadores possuem absorção mais lenta, o que pode dificultar seu uso em lavouras de grande escala.
“A discussão não deve excluir os químicos, já que eles são fundamentais para garantir as altas produtividades necessárias ao agronegócio em larga escala”, explicou.
Isso significa que, pelo menos no curto prazo, será necessário conciliar insumos químicos e minerais, garantindo que o agronegócio goiano mantenha sua competitividade e responda à alta demanda global por alimentos.
O avanço de Goiás na adoção de remineralizadores está alinhado com três tendências globais fundamentais: segurança alimentar – reduzindo a dependência externa em um mercado instável; sustentabilidade – promovendo práticas agrícolas que melhoram o solo a longo prazo; e resiliência geopolítica – diversificando insumos em meio a tensões internacionais.
Se a estratégia alcançar os resultados esperados, Goiás poderá se tornar um modelo nacional de transição agrícola, unindo produtividade e sustentabilidade.