sábado, 4 de outubro de 2025
Empreendedorismo feminino tem transformado vidas em Goiás

Empreendedorismo feminino tem transformado vidas em Goiás

Mas as mulheres enfrentam ainda dificuldades de acesso ao crédito, informalidade e falta de capacitação para abrirem e tocarem um negócio.

4 de outubro de 2025

Apesar das dificuldades, Dalila se sente orgulhosa em ter o próprio negócio.

Empreender como forma de transformação de vida e proporcionar uma educação melhor para os filhos. Foi assim que Dalila de Andrade Milagres encontrou sentido ao montar a Quitutes do Cerrado. Empresa especializada na produção de empadas e do famoso empadão goiano, em Alto Paraíso, no Nordeste de Goiás.

Dalila está há oito anos no mercado. Antes da gastronomia, trabalhava no ramo da mineração, atividade que proporcionou a ela conhecer várias cidades brasileiras. Morou em Florianópolis (SC) após se separar do marido, onde especializou as habilidades na culinária.

Quando se mudou para a cidade goiana, notou que havia um nicho bom para ser explorado, que seria o de salgados. Dalila afirma que chegou a produzir uma grande variedade, mas preferiu focar nas empadas para levar um produto de mais qualidade.

“Eu percebi que, quando a gente ia numa lanchonete aqui no interior de Goiás, tinha todo o tipo de salgado, menos a empada. E, muitas vezes, a gente acha que precisa abrir o leque, mas é o oposto. Só existe uma Coca-Cola, por exemplo. E focar na empada me ajudou a levar um produto mais otimizado para o meu cliente”, diz ao EMPREENDER EM GOIÁS.

Fábrica

A fábrica hoje funciona no primeiro andar da casa em que mora na cidade. Atualmente, ela atende sete lanchonetes e pretende expandir esse número. Mas, para isso, Dalila precisa aumentar a produção. A modeladora se tornou uma grande aliada dela.

A empreendedora conta que, com o maquinário, conseguiu dobrar a produção. “Eu fazia cerca de 150 empadinhas na mão. Hoje, eu faço umas 300 a 400. Além disso, eu tenho poucas perdas por causa da modelação. A cada 100, eu perco no máximo cinco empadas”, destaca.

A máquina foi adquirida após vários workshops que ela fez para lhe ajudar a cuidar das finanças da empresa. Entretanto, Dalila conta que há muita burocracia ainda a ser superada diariamente quando falamos em empreender.

Ela destaca a demora para conseguir a licença estadual, que só pode ser emitida diante de mudanças estruturais que ela precisaria fazer no espaço. Aí vem mais um problema: o dinheiro para fazer essas adequações.

Financiamento

Recentemente, Dalila pegou um financiamento através do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) para adquirir outro veículo para facilitar as suas viagens a Brasília (DF). Ela vai à capital federal para adquirir insumos da produção das empadas.

“Eu tinha um Fiat Uno que vinha abarrotado de coisas, mas ele não estava comportando a minha necessidade. Eu assisti uma reportagem que quem é Microempreendedor Individual (MEI) poderia ter crédito para troca de veículo. Assim eu fiz. Entrei em uma loja aleatória em Brasília e gostei da caminhonete. Ao preencher os dados, eu consegui e passei”, destaca.

Para a empresária, a caminhonete proporcionou mais tempo para se dedicar à produção dos salgados. De duas idas à capital federal a cada 15 dias, essa viagem reduziu para uma no mês.

“É um conforto e consigo trazer mais matéria-prima. Antes, por exemplo, eu comprava quatro caixas de manteiga. Agora eu compro dez. Por causa disso, eu consigo vender o dobro no mesmo mês. Eu fechei setembro com a venda de 3,3 mil empadas. Esse novo carro me proporcionou ficar menos cansada e me dar mais dias de trabalho”, conta.

Entraves

Apesar disso, Dalila conta que ser mulher nesse ramo ainda tem seus percalços. Pontua que já passou por situações de descrédito quando foi apresentar seus produtos para possíveis novos clientes. E destaca ainda que acredita que, se tivesse ainda mais facilidade ao crédito, poderia realizar a expansão da fábrica e chegar em outras cidades com as empadas.

“Eu penso todo dia em fazer um novo empréstimo para ter mais maquinários. Preciso de um dosador, que iria rechear as empadas com a quantidade certa, mas fica um receio. É tão difícil. São tantos fatores: burocracia, mercado, o receio de não conseguir pagar. É um medo real diante de todos os cenários”, afirma.

Apesar de tudo, Dalila se sente orgulhosa em ter o próprio negócio. É por meio dele que ela tem conseguido proporcionar uma qualidade de vida para os dois filhos, que têm dois e oito anos, conhecer novos lugares e até mesmo ter mais conhecimento na área da gastronomia.

Mulheres no comando

O obstáculo de acesso ao crédito é um gargalo reconhecido até mesmo pelo Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (MEMP). Segundo a pasta, entre os principais desafios estão a desigualdade salarial — as mulheres ganham até 22% menos do que os homens, mesmo sendo mais instruídas — e a sub-representação em setores de maior valor agregado e nos mercados internacionais.

Além disso, a pasta pontua que estereótipos sociais reforçam a sobrecarga e limitam as oportunidades de crescimento do empreendedorismo, como a dupla ou tripla jornada de trabalho, a falta de tempo para capacitação, a exclusão digital, e a ausência de redes de apoio. Dessa forma, as mulheres enfrentam um conjunto de dificuldades interligadas que restringem seu potencial de inovação e expansão, perpetuando desigualdades históricas.

Segundo dados do Perfil da Empreendedora Goiana, realizado pelo Sebrae, 350 mil mulheres atuam como empreendedoras em Goiás, com faixa etária média de 42 anos. O número é 21% das mulheres ocupadas no estado. Além disso, 45% delas têm o ensino médio incompleto a completo e 35% têm o ensino superior incompleto ou completo. Em relação à regularização, 61% ainda não contam com CNPJ, enquanto 39% estão formalizados.

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