quarta-feira, 17 de dezembro de 2025
Cenário impõe novos riscos ao agronegócio goiano

Cenário impõe novos riscos ao agronegócio goiano

O Valor Bruto da Produção agropecuária de Goiás atingiu R$ 120,9 bilhões neste ano, crescimento de 13,6%, segundo a FAEG.

17 de dezembro de 2025

As condições climáticas em 2024 e no início de 2025 favoreceram a produção agrícola

Mesmo em um ambiente global adverso e com crédito mais restrito, o agronegócio goiano manteve desempenho acima da média nacional em 2025. Balanço realizado nesta quarta-feira (17/12) pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG) mostram forte geração de riqueza e empregos no estado. Mas também revelam pressão crescente sobre margens, endividamento e rentabilidade para a próxima safra.

O Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária de Goiás atingiu R$ 120,9 bilhões neste ano, crescimento de 13,6% em relação a 2024, o equivalente a 8,6% do VBP nacional. Soja, bovinocultura, milho e cana-de-açúcar responderam por 74% desse total, consolidando o Estado como um dos principais polos agroindustriais do país.

As condições climáticas em 2024 e no início de 2025 favoreceram a produção agrícola, com ganhos expressivos de produtividade, especialmente na soja e no milho segunda safra. No entanto, esse avanço não se converteu integralmente em renda para o produtor, alertou a FAEG.

“O aumento dos custos de produção — insumos, fertilizantes, defensivos e logística — somado à pressão sobre os preços das commodities, reduziu as margens e mitigou os resultados econômicos no campo, evidenciando um descompasso entre produtividade física e rentabilidade financeira”, destacou o balanço da entidade.

Pecuária reage

Na pecuária de corte, 2025 foi marcado pelo aumento do abate de fêmeas, movimento que resultou em elevação dos preços e posterior estabilização da arroba. “O setor mostrou sinais de ajuste, embora ainda opere em um ambiente de cautela”, enfatizou a FAEG.

Já a cadeia do leite atravessou uma das crises mais severas dos últimos anos. Os preços pagos aos produtores ficaram abaixo de R$ 2,00 por litro, patamar insuficiente para cobrir os custos de produção.

A dificuldade atingiu também as indústrias, especialmente as de queijos, provocando desestruturação da cadeia láctea em nível nacional e aumentando o risco de saída de produtores da atividade.

Crédito restrito

Um dos principais pontos de atenção em 2025 apontado pela FAEG é o agravamento do endividamento rural, em um contexto de forte restrição ao crédito. Os pedidos de recuperação judicial no setor agropecuário brasileiro saltaram de 20 em 2022 para 566 em 2024, um crescimento de 2.730%.

Apenas até o segundo trimestre de 2025, já haviam sido registrados 415 pedidos, o equivalente a 73% de todo o volume de 2024. Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais concentraram 59,4% dos pedidos feitos em 2025, evidenciando a pressão financeira sobre os principais estados produtores.

A inadimplência na carteira de crédito rural com recursos direcionados chegou a 11% em outubro, com crescimento mês a mês, acendendo um alerta para o sistema financeiro e para a sustentabilidade da produção no médio prazo.

Tarifaço

O comércio exterior também trouxe desafios adicionais. O chamado tarifaço, que entrou em vigor em 6 de agosto de 2025, afetou diretamente produtos estratégicos da pauta agroexportadora, como carne bovina, açúcar, couros, café, sebo bovino e pescados.

A estimativa é de uma perda de US$ 325,6 milhões nas exportações brasileiras para os Estados Unidos. A carne bovina respondeu por US$ 162 milhões, quase 50% do impacto, com volume afetado de 55 mil toneladas. O açúcar teve impacto de US$ 42,4 milhões (13%), seguido por couros, café e sebo bovino.

“Para Goiás, o efeito reforça a necessidade de diversificação de mercados e maior agregação de valor às exportações”, enfatizou a FAEG.

Safra 2025/26

O horizonte para a safra 2025/2026 indica um cenário mais apertado para o produtor goiano, especialmente na soja. A produtividade média esperada recua de 69,7 sacas por hectare em 2024/2025 para 66,4 sacas por hectare, uma redução de cerca de 5%.

Ao mesmo tempo, o custo operacional total permanece elevado, subindo de aproximadamente R$ 5.920 para R$ 6.001 por hectare. Com isso, a rentabilidade estimada cai de R$ 2.287 para R$ 1.343 por hectare, sinalizando margens mais estreitas, maior exposição ao risco e necessidade de gestão ainda mais eficiente.

“Os dados de 2025 confirmam o papel central do agronegócio no crescimento econômico de Goiás, tanto na geração de riqueza quanto de empregos. No entanto, o conjunto de desafios — crédito restrito, custos elevados, instabilidade internacional e pressão sobre preços — aponta para um novo ciclo que exigirá estratégia, inovação e políticas de apoio mais eficazes para preservar a competitividade e a sustentabilidade do setor no médio e longo prazo”, conclui a FAEG.

Saiba mais: Goiás confirma safra recorde de soja em 2025

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