Crise comercial entre Brasil e EUA já gera prejuízos nas exportações e preocupa empresários goianos, relataram ao governador Caiado.
A ameaça do governo dos Estados Unidos de impor um tarifaço de 50% sobre produtos importados do Brasil só está prevista para entrar em vigor a partir de 1º de agosto. Mas diversos setores da economia goiana já começaram sentir os primeiros reflexos negativos.
Segundo preocupação manifestada por empresários durante reuniões com o governador Ronaldo Caiado, realizadas nesta semana.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Mineração de Goiás e do Distrito Federal (SindiMinerais-GO/DF), Luiz Antônio Vessani, revelou que houve cancelamento de pedidos imediatamente após o anúncio do presidente norte-americano, Donald Trump.
“Estamos bastante preocupados, principalmente com a comercialização da vermiculita, um mineral com amplas aplicações na indústria e na agricultura”, explicou Vessani.
Na mesma linha, o representante da Brasil Minérios, Lucas Campos, destacou que os Estados Unidos são o principal mercado consumidor da vermiculita extraída pela empresa em Goiás.
“Cerca de 60% do total exportado tem como destino os EUA, especialmente para uso na construção civil”, detalhou.
Além disso, Luiz Curado, da mineradora TGM, que atua com bauxita, afirmou que as negociações com agências de fomento norte-americanas estão paralisadas.
“Estamos tentando manter o diálogo, mas ele esfriou devido à ameaça do tarifaço, o que torna tudo muito mais difícil”, relatou.
Outro setor já afetado é o agronegócio, especialmente as cadeias produtivas de café, citros e carne. Segundo o vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg), Eduardo Veras, já há efeitos indiretos no segmento de cítricos. Principalmente porque Goiás exporta laranja para São Paulo e Minas Gerais, que redirecionam parte da produção aos EUA.
No entanto, a maior preocupação do setor agropecuário goiano está relacionada ao café. Só no primeiro semestre de 2024, o Estado exportou US$ 50 milhões do grão.
“Os Estados Unidos absorvem 16% do café goiano exportado. Se a taxação for mantida, os produtores serão impactados diretamente”, afirmou Veras.
Já o presidente da Aprosoja Goiás, Clodoaldo Calegari, chamou a atenção para os efeitos sobre a produção de ração animal, base da cadeia de carnes exportadas.
“A situação ainda exige um estudo mais aprofundado para avaliar a dimensão real do impacto. Mas já sabemos que ele existe e será sentido em breve”, disse.
Além disso, a possível retaliação brasileira com tarifas recíprocas levanta preocupações quanto à importação de máquinas agrícolas e componentes. Segundo Calegari, o cenário já é delicado por causa das margens apertadas da atual safra, afetada por condições climáticas adversas.
“Se tivermos mais um ciclo desfavorável, as dificuldades se agravarão. Já observamos a queda no preço da arroba do boi e nos valores praticados em leilões”, completou.
Para o governador Ronaldo Caiado, o caminho mais eficaz para resolver a questão é o diálogo diplomático. “Vamos usar da articulação política, como já temos feito, para ampliar essa discussão e mostrar ao governo americano que somos parceiros comerciais importantes”, afirmou.
Paralelamente, o governo estadual anunciou, nesta semana, a criação de novas linhas de crédito emergenciais, com o objetivo de apoiar o empresariado goiano diante da crise provocada pela tensão comercial com os Estados Unidos.