Sandálias artesanais de couro de tilápia em Goiás unem sustentabilidade, economia circular e empreendedorismo feminino com a marca Filha de Mahjory.
Transformar resíduos em produtos de valor tem movido a artesã Maria José dos Santos Sousa, de Luziânia (GO), no Entorno do Distrito Federal. Ela encontrou no couro de tilápia não apenas uma nova fonte de renda, mas também uma realização pessoal. O artesanato sustentável permitiu que Maria deixasse a atividade de faxina, que prejudicava sua saúde, e desse início a uma trajetória empreendedora promissora.
À frente da futura marca Filha de Mahjory, criada em homenagem à mãe, Maria se dedica à produção de sandálias artesanais sustentáveis. O plano é expandir o negócio, formando uma rede de mulheres empreendedoras que multipliquem a técnica e gerem renda em suas comunidades.
A trajetória teve início em 2012, quando Maria participou de uma capacitação para aprender técnicas de curtimento de couro de peixe. A inspiração partiu de Adriano Teixeira, gerente regional do Sebrae, que a motivou a trazer o conhecimento para Goiás. A falta de recursos, no entanto, atrasou o projeto.
Dois anos depois, com a ajuda de um primo, conseguiu adquirir o fulão. Equipamento essencial no processo de curtimento da pele da tilápia, que passa por até 12 etapas até se transformar em um couro resistente e maleável. Hoje, Maria conta com o apoio de Rogério Francisco Regis, de Pires do Rio, parceiro na preparação da matéria-prima.
Em 2018, Maria decidiu tocar o negócio sozinha. Sem espaço próprio, passou a enviar o couro para artesãos do Ceará, especializados em calçados. Assim nasceu a parceria com fabricantes de Crato (CE), onde suas sandálias ganharam ainda mais identidade. O solado, feito de pneu de trator reciclado, e a palmilha de recouro tornam cada par 100% sustentável.
Apesar da produção limitada, os resultados impressionam. Em um lote de 100 pares, quase todos foram vendidos em feiras e pela internet. As peças chegaram a clientes de quase todos os estados brasileiros. E também exportadas para os Estados Unidos (Flórida e Alabama) e para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Segundo Maria, a estratégia tem garantido uma clientela fiel e fila de espera para novas encomendas. Em um dos últimos lotes, ela chegou a faturar R$ 5 mil, sempre reinvestindo no negócio.
O trabalho da artesã está diretamente ligado ao conceito de economia circular. Em 2023, o Brasil produziu mais de 579 mil toneladas de tilápia, gerando toneladas de peles e escamas que, sem reaproveitamento, seriam descartadas como resíduos.
Ao transformar esse material em produto de valor, Maria contribui para a sustentabilidade ambiental e ainda gera oportunidades de renda.
Para ampliar a produção, Maria participa de feiras como a Agro Centro-Oeste Familiar, realizada na UFG em Goiânia, onde divulga seus produtos. Além disso, negocia uma parceria com o frigorífico Peixe Bom Pescados, em Goianésia, para implantar um curtume que facilitará o processo de exportação das sandálias.
O futuro reserva grandes planos: lançar oficialmente a marca Filha de Mahjory e estruturar uma rede de mulheres artesãs. “Minha marca é um sonho, mas também uma missão: mostrar que é possível viver do artesanato sustentável, valorizando o que a natureza nos oferece”, afirma.