Empreendedores goianos apostam em brechós para venderem roupas com estilos específicos e preço mais acessível.
Com necessidade de baixo investimento inicial e opções de compra facilitadas por anúncios on-line, os brechós estão se consolidando como alternativa para gerar renda. Conforme informações do Sebrae, o Brasil tem mais de 118 mil brechós ativos.
Em Goiás, existem 731 empresas de comércio varejista de artigos usados e antiguidades, os chamados brechós. De acordo com a pesquisa, 31% delas estão em, Goiânia.
Desde 2020, o setor teve um crescimento de 51%. A atividade mais comum destes negócios é a venda de vestuários e acessórios, uma vez que 149 destas lojas comercializam esses produtos.
Pesquisa da consultoria Boston Consulting Group (BCG), em parceria com o site Enjoei, revela que 70% dos consumidores compram em brechós por causa da sustentabilidade. Além disso, 40% da geração Z (pessoas entre 20 e 30 anos) já incorporou essa prática ao seu estilo de vida.
Em Goiás, a situação não é diferente. Muitos consumidores compram em brechós em busca de itens de qualidade mais baratos e, ainda, contribuem para a sustentabilidade.
Um ponto bastante relevante do empreendedorismo através de brechós é o espaço para as mulheres, uma vez que a participação feminina é bem representativa. Gabriela Lopes é um exemplo. Há 7 anos, decidiu comercializar roupas próprias e da família que não estavam sendo utilizadas para garantir uma renda extra a ser gasta em material para concurso, já que era advogada.
No entanto, Gabriela se apaixonou tanto pelo empreendedorismo e pelo segmento de brechós que desenvolveu seu próprio negócio. O Sua Moda Brechó começou em sua própria casa, mas rapidamente precisou de um local próprio.
A empreendedora começou com uma loja pequena em Jataí (GO), mas logo se mudou, pois precisava de um ambiente maior. Após cinco anos nesse segundo espaço, em agosto, o negócio se expandiu e Gabriela se instalou em um ponto ainda mais espaçoso e confortável.
“Este é um ponto bem maior do que o anterior e nós nos mudamos para atender melhor os clientes e proporcionar um lugar mais aconchegante”, diz ao EMPREENDER EM GOIÁS. Para Gabriela, o fator mais interessante do segmento é sua acessibilidade.
“O que mais me atraiu foi a possibilidade de poder ter acesso a marcas pagando por um preço acessível. Acredito que todas as mulheres merecem se vestir bem sem precisar gastar muito. O brechó me permite oferecer moda bonita, acessível e com propósito, ao mesmo tempo em que eu incentivo o consumo consciente”, frisa.
Gabriela confessa que existem desafios neste tipo de empreendedorismo. Como ter uma curadoria de qualidade para garantir o que os clientes desejam e podem pagar. “Outro ponto é quebrar preconceitos que ainda existem em relação a brechós. Mostrar que são espaços de moda atual, de estilo e propósito. Mas cada desafio acaba se transformando em motivação para melhorar sempre”, afirma.
O segmento de brechós é muito presente no cotidiano do público jovem, que encontra nele uma oportunidade de encontrar produtos estilosos e com preço acessível. Tendo isso em vista, os jovens também enxergam o negócio como uma grande oportunidade.
Lorenzo Guilherme, de 21 anos, encontrou na moda circular um meio de realizar o seu sonho e, por consequência, realizar os dos outros. Em 2021, ainda menor de idade, o jovem queria um tênis original, mas não tinha dinheiro para comprá-lo. Foi então que conheceu o mercado second hand e conseguiu o mesmo produto por metade do preço.
“Quando eu realizei esse sonho e vi que isso era possível para todo mundo. Comecei a vender alguns itens, participando de grupos e me enturmando na comunidade. Hoje eu vendo pra várias regiões do Brasil e também compro de várias regiões diferentes”, comenta.
Para ele, os pontos mais atrativos do setor são a acessibilidade de poder adquirir algo de qualidade pagando pouco, a versatilidade de itens e estilos, a história de peças como as Vintage (antigas), e a sustentabilidade. “O meio da moda está tomado pelo fast fashion, uma moda rápida e questionável, enquanto os brechós ressignificam e mantêm viva a cultura do Vintage e Second Hand”, frisa.
Lorenzo afirma que seu negócio, o Brechó LZO, cresce a cada dia. No entanto, ainda não é sua atividade principal. Mesmo assim, sua curadoria de qualidade e seu posicionamento profissional têm trazido cada vez mais clientes. Segundo o empreendedor, está nos preparativos finais da inauguração de seu primeiro ponto físico de venda.
Ele entende que, apesar da demanda alta por brechós, ainda existem aqueles que enxergam os produtos com desconfiança e que pensam que as lojas não passam de uma espécie de bazar. “Eu trabalho para separar essa imagem de bazar do meu brechó e prezo por uma identidade de Vintage shop, que sabe o que vende, sabe dar e agregar o devido valor a cada item”, revela.
No BrechóLZO, explica, cada item é tratado como uma relíquia atemporal, cada roupa é a extensão da sua personalidade. “Então saber o que vestir e como se vestir importa sim. Eu, como dono, tenho o maior prazer em levar a oportunidade de se expressar com autenticidade para as pessoas”, relatou.
A moda circular, os produtos second hand e os brechós caminham para um lugar de destaque na moda global. Nos Estados Unidos, o mercado de segunda mão cresceu 14% em 2024, com destaque para o comércio digital, que avançou 23% em um ano.
Esse mercado já é avaliado em cerca de US$ 190 bilhões e deve dobrar até 2027, com expectativas de que pode chegar a US$ 422 bilhões até 2032. Segundo a Future Market Insights, o valor pode ultrapassar US$ 580 bilhões até 2035.
Caso a expectativa seja atingida, haveria um crescimento anual superior a 10%, o que é maior até mesmo do que o setor de varejo da moda tradicional. Dessa forma, é possível que a moda circular supere a fast fashion em faturamento até 2030.