Frigorífico em Pirenópolis será levado a leilão no primeiro semestre de 2026 e pode marcar uma negociação de R$ 7,5 bilhões.

O último capítulo de uma das transações mais significativas já realizadas no setor de proteína bovina no Brasil está prestes a avançar. Depois de mais de dois anos do anúncio da venda de frigoríficos da Marfrig — hoje MBRF — para a Minerva Foods, uma unidade goiana, localizada em Pirenópolis, será levada a leilão até o fim do primeiro semestre de 2026.
O leilão deve marcar o fechamento de uma operação de impacto bilionário, inicialmente avaliada em R$ 7,5 bilhões. Também reconfigura a geografia industrial do segmento no Centro-Oeste.
A alienação do frigorífico é o único ponto pendente imposto pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), quando analisou o negócio entre as duas gigantes. O tribunal concluiu que, sem a venda, a concentração de mercado em Goiás atingiria patamares considerados excessivos. Com Minerva e JBS somando até 77% das compras de gado para abate no estado.
A planta de Pirenópolis, embora desativada há anos, detém um ativo valioso: um SIF (Serviço de Inspeção Federal) ativo. Em um setor em que boa parte da capacidade instalada opera com inspeção apenas estadual — restrita ao consumo interno — a manutenção de habilitação federal transforma o imóvel industrial em um ativo estratégico. Especialmente para grupos de médio porte ou investidores internacionais com ambições exportadoras.
Após mais de doze meses sem propostas efetivas, o Cade autorizou a contratação de uma consultoria especializada. Caberá a ela determinar um valor mínimo de referência e desenhar estruturalmente a venda. De acordo com parâmetros de rastreabilidade, capacidade de adaptação fabril, exigências sanitárias e potencial logístico.
O leilão deverá seguir protocolos de transparência, garantindo tratamento isonômico entre interessados. Caso não haja propostas, o Cade admitiu encerrar o processo sem impor novo desinvestimento — o que permitiria à Minerva reincorporar o ativo sem penalidades regulatórias. O próprio conselheiro-relator, Carlos Jacques, sinalizou que esse cenário não reabriria a discussão concorrencial.
Da listagem original de 16 unidades anunciadas em agosto de 2023, a Minerva consolidou a aquisição de 12 plantas. Três unidades no Uruguai foram vetadas por autoridades locais, e Pirenópolis permanece como o único desinvestimento exigido em território brasileiro.
A operação reposicionou a Minerva no mercado sul-americano, ampliando participação estratégica em regiões com forte presença pecuária, capacidade de confinamento, disponibilidade de gado terminado e acesso a corredores logísticos de alto rendimento.
Em Goiás, o desenho final da rede operacional mantém a Minerva com duas plantas ativas: Palmeiras de Goiás, com forte viés exportador; e Mineiros, com alta capacidade de abate e integração regional. A saída da planta de Pirenópolis elimina potenciais redundâncias competitivas e preserva margem de equilíbrio na originação pecuária.
No cenário atual de processamento bovino, oportunidades de adquirir uma planta SIF federalizada, localizada em polo pecuário estratégico e com histórico industrial, são escassas. Por isso, o leilão de Pirenópolis tende a atrair: grupos nacionais em expansão, fundos e operadores internacionais, players regionais de abate e desossa e frigoríficos especializados em nichos premium ou mercados halal.
Com a abertura do processo competitivo, Goiás coloca no mercado um ativo singular, cuja exploração tem potencial para inserir novos agentes no mapa da carne brasileira.