Atualmente, 33 empresas de mineração já atuam no estado com projetos voltados à definição de recursos e reservas de terras raras.
Goiás se consolida como um dos principais polos de pesquisa mineral do Brasil, com destaque para as terras raras. Tratam-se de minerais estratégicos para a transição energética e para a cadeia tecnológica global. Atualmente, existem mais de 400 processos de pesquisa mineral envolvendo terras raras em Goiás, segundo dados da Secretaria de Indústria, Comércio e Serviços (SIC).
Entre os principais focos estão as argilas iônicas, ricas em elementos como neodímio, térbio e disprósio. Fundamentais na produção de turbinas eólicas, motores elétricos, baterias e equipamentos militares, por exemplo.
De acordo com a SIC, 33 empresas de mineração já atuam no estado com projetos voltados à definição de recursos e reservas de terras raras. A maioria delas tem capital aberto internacional, listadas nas bolsas de valores do Canadá, Austrália e Estados Unidos.
Atualmente, essas companhias somam 392 requerimentos de pesquisa mineral junto à Agência Nacional de Mineração (ANM), cobrindo uma área de aproximadamente 609 mil hectares em território goiano.
O secretário Joel Sant’Anna Braga (SIC) destaca que o estado já tem um marco importante: a primeira produção efetiva de concentrado de terras raras fora da China. É realizada pela mineradora Serra Verde, em Minaçu, no Norte de Goiás.
Segundo ele, esse cenário reforça o potencial geológico de Goiás para atrair investimentos em mineração sustentável e projetos ligados à indústria verde. “Com o acirramento das tensões entre China e EUA, Goiás se torna ainda mais estratégico. Temos múltiplos projetos promissores e elevado grau de recuperação de elementos de terras raras pesados (ETRs)”, afirmou.
Goiás prepara o lançamento do Plano Estadual de Recursos Minerais (PERM-GO), que deve entrar em consulta pública ainda este mês. O documento pretende estabelecer diretrizes para agregar valor à produção mineral, estimular a pesquisa científica e atrair novos investimentos. Sempre com foco na sustentabilidade ambiental e na verticalização da cadeia produtiva.
Além das terras raras, o estado apresenta alto potencial para depósitos de cobre, níquel, cobalto, nióbio e ouro. Minerais considerados críticos para a transição energética e a produção de tecnologias limpas.
O setor, no entanto, também enfrenta desafios. O chamado tarifaço dos Estados Unidos sobre exportações brasileiras tem afetado a competitividade das terras raras no mercado internacional. Segundo Luís Maurício Azevedo, diretor da australiana PVW Resource, houve retração de investidores americanos e redirecionamento de capitais para outros países.
Apesar disso, executivos do setor acreditam que o Brasil, especialmente Goiás, pode se consolidar como alternativa confiável às grandes economias dependentes da China. Para isso, apontam como fundamentais a segurança jurídica, os incentivos a joint ventures e políticas industriais voltadas à verticalização dos minerais estratégicos.
Rob Tyson, CEO da Alvo Minerals, defende que o Brasil precisa ir além da simples exportação de concentrados. Para ele, o caminho é investir na produção local de ímãs, baterias e componentes de alto valor agregado.
Na mesma linha, Leonardo Prudente, diretor executivo da Axía Resources, afirma que Goiás tem potencial para se tornar o maior produtor de minerais críticos do país, dada sua diversidade geológica e infraestrutura em expansão. Segundo ele, os projetos da empresa incluem sondagens para depósitos de terras raras e cobre no estado, reforçando o compromisso com novos investimentos.
Para o secretário Joel Braga, Goiás está diante de uma oportunidade histórica. “O estado tem um portfólio mineral robusto e atrativo, capaz de gerar parcerias estratégicas em um momento em que países industrializados buscam reduzir a dependência da China. É a chance de agregar valor à nossa produção e transformar Goiás em protagonista da mineração sustentável e da transição energética global”, concluiu.