Depois de perder pai e marido, dona de casa teve de assumir a empresa da família em Goiânia. Muitos apostaram que ela ia quebrar. Perderam.

A empresária goiana Marizete Barbosa Castro de Oliveira, de 65 anos, precisou superar o luto de perder o pai e o marido para sustentar a casa. Sem nunca ter trabalhado na empresa da família, precisou ser resiliente para assumir o negócio: a HBS Borrachas, na Avenida Castelo Branco, em Goiânia (GO).
Com 37 anos de mercado, a empresa é voltada para peças dos segmentos automotivo e industrial. “Eu era dona de casa, filha única, e meu pai nunca tinha me deixado trabalhar. De repente, estava com dois filhos adolescentes, uma mãe com Alzheimer e uma empresa nas mãos. Não sabia nem o nome das peças”, relembra ao EMPREENDER EM GOIÁS.
Segundo Marizete Barbosa, o tempo do luto foi colocado “dentro de uma caixinha”. E teve ainda de enfrentar outro desafio, além da falta de conhecimento do negócio: vencer o preconceito e a desconfiança por ser mulher. Ela conta que teve que tomar várias decisões difíceis para manter a empresa familiar, em dificuldades financeiras, aberta.
Tirou os filhos de várias atividades extracurriculares que lhe tomavam tempo, se desprendeu de qualquer vaidade e começou a cortar despesas na empresa. “Desliguei funcionários, fiquei apenas com três dos nove. Negociei dívidas e passei 11 anos pagando o que a loja devia”, diz.
Superadas essas dificuldades, Marizete Barbosa conseguiu colocar a empresa no azul e ainda fazer uma reserva financeira para retomar o crescimento e ainda manter uma reserva estratégica no caixa. Ou seja: reforçou o capital de giro do negócio. Em 2026, ela completará 20 anos à frente do negócio.
Descrita como uma pessoa com os “pés no chão”, a empresária afirma que atualmente a HBS Borrachas conta com mais de 3,8 mil produtos em estoque. De correias automotivas, mangueiras, coxins, lençóis de borracha e lameiros para caminhão. A empresa atende principalmente clientes de Grande Goiânia, mas também envia mercadorias para outros estados, como Pará e Mato Grosso.
Atualmente, a HBS Borrachas tem cinco pessoas na equipe, incluindo Marizete Barbosa e seu filho. Conta com uma cartela fiel de clientes. “Temos clientes que compram quase todos os dias. Outros faturam quinzenalmente. Mas todos sabem que aqui não tem atraso, nem descuido. Nunca deixei de pagar funcionário, FGTS ou imposto. Honestidade sempre foi a base de tudo”, enfatiza.
Entretanto, a empresária agora enfrenta um novo desafio: a concorrência digital. Principalmente, com grandes e-commerce que vendem alguns produtos até mesmo mais baratos dos que ela comercializa.
Entretanto, Marizete Barbosa busca diferenciar sua empresa pelo atendimento e qualidade. “Trabalhamos com qualidade, não com preço. Damos garantia de tudo o que vendo. O cliente volta porque confia nos nossos produtos e na nossa empresa”, explica. A sua loja também já conta com um site na internet, mas ainda sem a possibilidade de venda online.
Depois de superar várias barreiras, Marizete Barbosa teve a ideia de ajudar outras mulheres empreendedoras. Assim, decidiu criar o grupo Goianas na Oficina. O objetivo é dar visibilidade e apoio às mulheres que atuam em oficinas e lojas de autopeças. “Hoje somos mais de 350 mulheres. Compartilhamos experiências, trocamos informações e nos fortalecemos. É um espaço para mostrar que a mulher entende, sim, de oficina”, afirma.
O grupo realiza dois encontros por ano, com palestras técnicas e de desenvolvimento pessoal. “A gente se ajuda. Muitas de nós já ouvimos clientes dizendo ‘quero falar com o mecânico’ — sem imaginar que a mecânica era uma mulher. O preconceito ainda existe, mas estamos quebrando isso dia a dia”, diz.
A empresária não esconde o orgulho que sente da trajetória que construiu: além de consolidar a empresa, formou a filha em Enfermagem, que hoje mora no Canadá, e trouxe o filho para ajudá-la nessa jornada. “No começo, há quase 20 anos, muita gente dizia que eu ia quebrar em três meses. Não quebramos. Continuamos, um dia de cada vez. E é assim que sigo: firme, honesta e grata por ter vencido”, conclui.