A greve dos caminhoneiros foi a cereja que faltava no bolo de surpresas que o mercado teve nos últimos meses. Tudo começou com a alta de juros nos Estados Unidos, passando pela crise na Argentina e, mais recentemente, com a surpresa da taxa Selic e a crise dos combustíveis. Com o cenário bastante diferente do […]
A greve dos caminhoneiros foi a cereja que faltava no bolo de surpresas que o mercado teve nos últimos meses. Tudo começou com a alta de juros nos Estados Unidos, passando pela crise na Argentina e, mais recentemente, com a surpresa da taxa Selic e a crise dos combustíveis. Com o cenário bastante diferente do projetado no início do ano, o panorama favorável a aplicações de risco começa a mudar, sobretudo para o pequeno investidor.
O efeito da greve veio para “acordar para a realidade” e mostrar que, até as eleições, o sobe e desce nas aplicações pode ser mais brusco do que se imaginava. Diante desse cenário, adotar postura mais conservadora pode ser um bom negócio.
Em maio a bolsa, que até poucos meses atrás poderia chegar aos 100 mil pontos, perdeu os 12% que tinha ganhado no ano e fechou no zero a zero. Na indústria de fundos houve resgate de R$ 23 bilhões. Até o dia 18 de maio, antes da greve dos caminhoneiros, a indústria havia captado R$ 28 bilhões.
No balanço divulgado na quarta-feira (30/05), contudo, o total adquirido até o dia 25 havia caído para R$ 5,1 bilhões, segundo a Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Os fundos imobiliários também não foram poupados e recuaram 5,76%.
Choque de realidade
“O mercado vinha ignorando um pouco a situação político-econômica, achando que ela se resolveria num passe de mágica, mas o que aconteceu foi um choque de realidade”, explica Arnaldo Curvello, diretor da Ativa Corretora. Segundo ele, o mercado reagiu mal às concessões feitas pelo governo, o que pode piorar as contas públicas e a atividade econômica. Com essa nova realidade, não há motivo para ver nova euforia com a Bolsa.
Diferente da calmaria de fim de mês, Marcio Cardoso, sócio-fundador da Easynvest, afirma que os últimos dias foram atípicos. Parte do movimento foi de mudanças de posições, privilegiando agora investimentos mais conservadores, mas também teve quem aproveitou os baixos preços das ações.
“Ficamos pelo menos 12% mais barato”, resume o coordenador do laboratório de finanças do Insper, Michael Viriato. Segundo ele, esse nível pode significar boas oportunidades, mas o pulo do gato é saber se esse é só um desvio de rota ou é uma nova trajetória que vai se manter por mais tempo. Para Viriato, quem quiser entrar em produtos mais arriscados como Bolsa ou fundos de mais risco pode fazê-lo, porém com menos aporte do que previa
Novas oportunidades
Diante do novo cenário, Curvello, da Ativa, aconselha os investidores a olharem para os títulos prefixados de longo prazo. Isso porque a expectativa dos juros aumentarem no futuros está mais forte, o que favorece esses produtos. Para ele – um dos poucos que acertou a última decisão do Banco Central -, a autoridade monetária não deve elevar a taxa de juros até o fim da eleição, mas os papéis futuros já começam a precificar alguma alta.
Na quarta-feira (30/05), os títulos acima de quatro anos já estavam pagando taxa perto dos 10%. Com o CDI, que baliza as operações em renda fixa, na casa dos 6%, os títulos estão com boa vantagem
Para Viriato, o importante é carregar o papel até o final, para não ficar exposto a variações como da última semana. Além dos prefixados, ele aconselha os de longo prazo atrelados à inflação
Quem ainda quiser risco, pode ter nos fundos imobiliário cotas mais baratas e que não sofrem tantos solavancos como a Bolsa, explica Viriato. Na maré do risco, a melhor aplicação em maio foi o dólar, que teve alta de 6%.
Ele diz que as aplicações atreladas à moeda americana têm dinâmica inversa da Bolsa, mas é tão volátil quanto, ou seja, requer sangue frio e pode não ser o mais indicado para o pequeno investidor.