Apesar da disparada do dólar nas últimas semanas, o Banco Central decidiu manter a Selic (a taxa básica de juros) em 6,50% ao ano, no menor patamar da história. Na decisão anunciada na noite desta quarta-feira, 20, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC não deu sinais de que vai manter a Selic neste […]
Apesar da disparada do dólar nas últimas semanas, o Banco Central decidiu manter a Selic (a taxa básica de juros) em 6,50% ao ano, no menor patamar da história. Na decisão anunciada na noite desta quarta-feira, 20, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC não deu sinais de que vai manter a Selic neste nível nos próximos meses, ao contrário do que fez na reunião anterior, de maio.
A decisão do Copom – formado pelo presidente do BC, Ilan Goldfajn, e pelos oito diretores da instituição – já era esperada pelos economistas do mercado financeiro. De um total de 49 instituições consultadas, todas esperavam a manutenção da Selic em 6,50% ao ano.
A cada 45 dias, o Copom calibra o patamar da Selic buscando o cumprimento da meta de inflação, fixada todos os anos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Como a Selic é a taxa básica de juros da economia, ela serve como referência para todas as demais taxas cobradas das famílias e empresas.
Com a manutenção da Selic no atual patamar, o Brasil passa a figurar na sétima posição do ranking de 40 países por taxas reais de juros (descontada a inflação). A lista, elaborada pelo portal MoneYou e pela Infinity Asset Management, indica que o juro real no Brasil está em 2,91%. A taxa é inferior a de países como Argentina (23,89%), Turquia (9,40%) e Rússia (4,73%), mas superior a de África do Sul (1,67%), Colômbia (1,16%) e Malásia (1,10%).
Cenário incerto
Mesmo os economistas que esperavam pela manutenção da Selic admitiam que o cenário para a taxa básica havia se tornado incerto, em função do ambiente internacional, da disparada do dólar ante o real nos últimos meses, da greve dos caminhoneiros iniciada no fim de maio e do cenário eleitoral ainda nebuloso no Brasil. Do encontro de maio do Copom para o de ontem, o dólar à vista subiu 2,68%, aos R$ 3,77. No ano, a moeda americana acumula ganho de 13,83% ante o real.
No comunicado desta terça, o Copom reafirmou que apenas os “efeitos secundários” da alta do dólar sobre a inflação serão combatidos. Na prática, os dirigentes do BC não consideraram em sua decisão o avanço em si da moeda americana, mas o quanto ele pode influenciar na remarcação de preços. Como a recuperação econômica é lenta, a alta de preços ao consumidor em função do dólar também tende a ser menor, na avaliação do BC.
Além disso, a instituição afirmou que a greve dos caminhoneiros dificulta a leitura sobre a evolução recente da atividade econômica. O BC espera que os indicadores de atividade de maio e junho reflitam os efeitos da greve. Ao mesmo tempo, o impacto sobre a inflação das altas de preços ocorridas durante a greve deve ser temporário.
Com esses argumentos, o Copom manteve a Selic em 6,50% ao ano ontem, mas não garantiu que será assim na decisão que tomará no início de agosto. Chamou a atenção o fato de o colegiado ter retirado do comunicado de ontem uma frase presente no documento da decisão anterior, de maio: a de que, “para as próximas reuniões, o comitê vê como adequada a manutenção da taxa de juros no patamar corrente”. O colegiado procurou ressaltar ontem que as próximas decisões sobre juros dependerão da evolução da atividade, dos riscos para a inflação e das projeções dos para os índices de preços.
No próprio comunicado de ontem, o BC projetou índices de inflação mais elevados em 2018. No cenário de mercado, a projeção para a inflação este ano passou de 3,6% para 4,2%.
Em ambos os casos, a inflação ficaria dentro da meta perseguida pelo BC, de 4,5%, com margem de 1,5 ponto porcentual (taxa de 3,0% a 6,0%). No entanto, as projeções indicam que o período de inflação baixíssima no Brasil vai ficando para trás. Em 2017, a inflação havia ficado abaixo de 3%.