Já imaginou que em 2080, você, seu filho ou mais provavelmente o seu neto poderão estar morando num imóvel de 3 metros quadrados? Quem faz esse exercício de futurologia é Marcus Araújo, estatístico e fundador da Datastore, maior empresa no País em pesquisas para o setor de imóveis. Acumulando mais de 25 anos de experiência […]
Já imaginou que em 2080, você, seu filho ou mais provavelmente o seu neto poderão estar morando num imóvel de 3 metros quadrados? Quem faz esse exercício de futurologia é Marcus Araújo, estatístico e fundador da Datastore, maior empresa no País em pesquisas para o setor de imóveis. Acumulando mais de 25 anos de experiência em estudos de demanda para o setor de imóveis, o especialista esteve em Goiânia para falar a uma plateia de mais de 400 corretores de imóveis durante edição especial da URBS Inove Conference.
Criador do algoritmo que já avaliou mais de R$ 555 bilhões em imóveis, Marcus Araújo analisou várias outras tendências do mercado imobiliário brasileiro que, segundo ele, são inevitáveis, como exemplo a redução do número de membros das famílias brasileiras, o que está influenciando profundamente o perfil dos projetos imobiliários de hoje e de amanhã.
Em suas palestras, você diz que em 2080 as pessoas poderão estar morando em imóveis de 3 m². Em que cenário existirá esse tipo de imóvel e a que público se destinará?
Esse imóvel existirá num cenário de muita tecnologia e para um público que hoje ainda não é maioria, mas irá se tornar cada vez mais presente na nossa sociedade, que são os solteiros convictos. São pessoas que têm relacionamentos, mas que não acham interessante dividir espaço com alguém para sempre. As necessidades com a adição da tecnologia ficarão cada vez mais reduzidas e com isso os imóveis poderão ser extremamente menores, mas altamente tecnológicos. Nesse caso específico de um imóvel de 3 m², ele será extremamente conectado com o corpo humano. Ele irá interpretar seu humor, seu sinais vitais, ou seja ele será praticamente uma cápsula de inteligência ligada a você.
Esse imóvel do futuro seria um dormitório?
Esse já é o conceito aplicado hoje. Se você for ver, por exemplo, os nanos imóveis que já existem em São Paulo, com 25, 18, 10 m², eles já são voltados para isso. Você tem lugar para dormir e para viver. Você assiste à televisão, você recebe uma pessoa, e num imóvel de 10 m² isso é possível. Você tem suas necessidades básicas todas ao seu alcance, só que sua vida toda estará fora deste imóvel. Portanto, os espaços compartilhados como coworking, costudying, passam a ser muito maiores e interativos.
O senhor citou que existem hoje sete novos públicos que estão mudando o mercado imobiliário no Brasil. Quais são esses públicos?
O público número um são os solteiros com relacionamento engajado, mas que irão demorar a casar. Hoje, as pessoas estão adiando o casamento lá para os 40 anos e estou falando de gente que hoje está com 25 anos, então são 15 anos para casar e ter filhos. Depois temos os casais com um filho, e cujo o segundo filho, muitas vezes, é um pet. Temos também os casais que optam em não ter filhos, mas têm um pet, que faz parte da família e é tratado como tal. Há os casais homoafetivos, que muitas vezes adotam um filho ou tem um pet. Temos os casais que não vão ter filhos. Há também os casais com mais de 60 anos, que descobriram que os netos irão demorar a chegar, por isso não precisam de tanto espaço só para os dois, e querem também mais praticidade. Por fim, há as pessoas que se decepcionam ou resolvem mudar de vida, e irão querer ficar só.
O senhor já comandou pesquisas de mercado em Goiânia. Que perfil pode se ter do mercado de imóveis da cidade daqui a dez anos?
Redução de metragens é um sinal. Por exemplo, você tem um super sucesso lançado recentemente de um loteamento fechado com unidades de 250 m², vendeu tudo em 15 dias. Por quê? Saímos do lote de 300 m², que já era o menor, para um de 250. E quem comprou poderia adquirir um lote maior, mas só que agora querem menos espaço privativo e mais espaços compartilhados. Então, o futuro imobiliário de Goiânia é o mesmo da grande maioria dos centros urbanos: a compactação, lembrando que compactação não significa necessariamente um imóvel pequeno. Você pode ter um apartamento de quatro ou três quartos, mas levemente reduzido em seus cômodos.