domingo, 28 de abril de 2024
Brasil pode virar uma Argentina ou Venezuela?

Brasil pode virar uma Argentina ou Venezuela?

A situação econômica dos países vizinhos tem alimentado medo no Brasil desde a eleição de Lula. Mas, há risco de seguirmos o mesmo caminho? Confira.

21 de dezembro de 2022

Paulo Cunha: “Brasil está entre as 10 principais economias mundiais”

A Argentina chegou ao maior nível de inflação dos últimos 30 anos, registrando 88% ao ano, no último mês de outubro. Já a inflação na Venezuela disparou para o patamar de 300% ao ano. A situação econômica dos países vizinhos tem alimentado medo e incertezas no mercado financeiro brasileiro. Essa “angústia” é resultado da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para comandar o País pela terceira vez a partir de 2023.

O governo petista possui bases que se aproximam dos ideais governamentais das atuais gestões de Argentina e Venezuela. O que tem gerado dúvidas no panorama político econômico local. No entanto, o Brasil possui diversos pontos divergentes em relação às políticas econômicas adotadas por esses países. Até mesmo o modelo de gestão governamental segue uma linha diferente.

Má gestão financeira e organizacional tem sido um problema constante dos governos argentinos ao longo dos últimos anos. Na Venezuela, a situação política de imposição, colocada por Nícolas Maduro, levou o país a uma instabilidade social e econômica. E ambas atingiram patamares colapsáveis.

Para Paulo Cunha, especialista em mercado financeiro e CEO da iHUB Investimentos, a democracia brasileira cumpre um papel de equilibrar os idealismos. “Apesar de todas as críticas que podemos fazer da nossa jovem democracia, fato é que ela ainda assim possui um certo equilíbrio de forças e arcabouço institucional”, diz.

Diferenças econômicas

Além de uma democracia abrangente e equilibrada, fatores exclusivamente econômicos solidificam a diferenciação entre Brasil, Argentina e Venezuela. Cunha comenta que o Brasil possui três pontos fundamentais para sustentar a tese de que o País não seguirá seus vizinhos: boa reserva em dólares forte exportação de commodities e Banco Central independente.

Atualmente o Brasil é um credor líquido internacional, tendo mais reservas do que dívidas em dólares. Segundo informações do Tesouro Nacional, o País possui aproximadamente US$ 330 bilhões em reservas. Em uma eventual disparada do dólar, esse “colchão” de proteção se valoriza em reais. Isto evita que o movimento de aumento perdure de forma muito intensa e por um período prolongado.

Entretanto, nossos vizinhos sul-americanos, tanto a Argentina, quanto a Venezuela, são devedores líquidos, possuindo mais dívidas do que reservas internacionais. Quando existe alta do dólar na economia, a dívida aumenta, o risco se potencializa. O que acarreta em mais fuga de moeda e novamente em maior alta do dólar, causando uma espiral inflacionária e fuga de capital.

De janeiro a novembro de 2022, a economia brasileira exportou US$ 298 bilhões e importou US$ 243 bilhões. Por conta disto, teve saldo positivo de mais de US$ 55 bilhões na balança comercial. E aumenta as reservas em dólares. O Brasil possui também um grande leque de matérias primas, sendo a soja a principal, cuja representação é de “apenas” 14% do volume total.

A lista segue por várias outras commodities como minério de ferro, petróleo bruto, açúcar e carne bovina. Um portfólio diversificado ajuda a economia local a não ficar exposta a uma crise ocasionada pela queda nos preços de uma determinada matéria-prima, assim como ocorre com a Venezuela, com o petróleo (80% das suas exportações).

Mercado interno

Além disso, o Brasil está entre as 10 principais economias mundiais, tendo um imenso mercado interno com mais de 200 milhões de consumidores. E detém a principal metrópole e centro financeiro da América Latina, São Paulo. O PIB brasileiro também mostra a força do consumo interno, principalmente no setor de serviços, que representa 60% do PIB.

O dado evidencia uma certa renda do brasileiro para consumir, diferentemente da Argentina e Venezuela, em que a perda de renda nos últimos anos é consideravelmente alta.

O Banco Central brasileiro ganhou status de “independente”. Isso significa que o seu presidente possui um mandato fixo de quatro anos, não converge com o mandato presidencial e o líder do executivo não pode demiti-lo durante o período. Essa estabilidade cria um certo conforto para que a instituição possa aplicar políticas de ajuste monetário, caso a inflação comece a dar sinais de aumento.

“A independência do Banco Central gera segurança econômica e confiança de que nenhuma interferência política poderá intervir no desenvolvimento da instituição financeira, criando um respaldo técnico para o mercado financerio”, finaliza Paulo Cunha.

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One thought on “Brasil pode virar uma Argentina ou Venezuela?”

  1. Para além das questões aqui levantadas quando se compara as gestões do: Brasil, Venezuela e Argentina, temos um diferencial importante o Plano Real, que sobrevive a mais de 28 anos, apesar de alguns percalços.
    Ele assenta no tripé: Taxas de câmbio flutuantes, metas de inflação e equilíbrio fiscal. Mesmo com algumas intervenções no mercado futuro, o câmbio se mantém flutuante. As metas de inflação nesse ano vão ficar próximas, idem para o equilíbrio fiscal.
    Lula quando governou manteve o plano e não será diferente agora. O fato do congresso ter chegado um acordo na aprovação da PEC, de transição por apenas um ano, ter acabado com o orçamento secreto, após o STF, considerá-lo inconstitucional é o indicativo, que o Plano Real, está vivo, sendo portanto patrimônio da população brasileira e não será deixado de lado. O que tende a acontecer é menos acuidade fiscal
    mantendo a SELIC em 13,75% ou a elevando para algo em torno de até 16%, fato que aumenta a dívida pública e comprometem investimentos.
    O Brasil na gestão Lula, não será uma Venezuela e nem Argentina, continuará o seu curso em busca do crescimento e desenvolvimento econômico, com mais justiça social.