quarta-feira, 1 de maio de 2024
A derrocada do varejo no Brasil

A derrocada do varejo no Brasil

Situações como mudanças no cenário político, na economia, além da competitividade natural do segmento são algumas das grandes dificuldades que assolam o setor

7 de março de 2023

O estrago causado pelas Americanas está contaminando o setor do varejo no país. Mas será que isso é somente um efeito em cascata ou um reflexo de falta de planejamento a curto e longo prazos de algumas empresas? Ou ainda um conjunto de fatores? É certo que são grandes os desafios vivenciados recorrentemente pelos varejistas de todo o país. 

Situações como mudanças no cenário político, na economia, além da competitividade natural do segmento são algumas das grandes dificuldades que assolam o setor. Se não bastasse isso, vemos grandes empresas passando por dificuldades e que tem grande impacto sistêmico no mercado, como o caso da Americanas e mais recentemente da Marisa.

Aqui, em Goiás, também temos exemplos, como o da Casa Goianita. A empresa pediu recuperação judicial com uma dívida de R$ 22 milhões. No mercado há 71 anos, a Goianita sentiu os efeitos das restrições de eventos por causa da pandemia, já que tem como carro chefe listas de presentes de casamento. Porém, a situação se agravou ainda mais com a alta dos juros, o que dificultou a extensão de prazos para pagamentos, além de outros entraves com instituições financeiras.

No caso do Grupo Marisa, precisamos voltar um pouco no tempo. Quando em 1999, a Marisa criou o Cartão Marisa, a finalidade era oferecer crédito mais fácil para as clientes na compra de roupas íntimas. Mas com o passar dos anos, mais um modelo de cartão foi incluído nas operações da rede. 

Além do private label (cartão de crédito de varejista válido para compras na própria loja), passou a oferecer o Co-Branded (cartão emitido pelo varejista, em parceria com instituição financeira, que pode ser usado em qualquer estabelecimento).

Assim, a Marisa passou a ser mais uma instituição financeira do que a antiga varejista, o que tem sido comum em muitas empresas desse porte, que já ofereciam os cartões private label.  Resumidamente, no lugar de vender os próprios produtos a prazo, passaram a vender dinheiro, crédito.

Todo esse cenário está provocando uma derrocada das instituições de varejo já que gera um efeito em cascata, por impactar diversas cadeias. Uma delas é a escassez de crédito no mercado. Com a preocupação e desconfiança do mercado gerado pelo rombo das Lojas Americanas, as instituições financeiras diminuíram a concessão de crédito. E as empresas que já não estavam saudáveis, acabaram em uma situação de extrema dificuldade, em pouco tempo.

Outro efeito são os impactos em toda a cadeia de credores dessas gigantes, que podem influenciar desde um aumento de juros por parte dos bancos, quanto um aumento de preço em alguns produtos por parte de algum fabricante, por exemplo, todos buscarão recuperar o prejuízo.

Rafael Cássio é gestor comercial e sócio da Ática Gestão, especialista em reestruturação de empresas 

Rafael Cássio é gestor comercial e sócio da Ática Gestão, especialista em reestruturação de empresas

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2 thoughts on “A derrocada do varejo no Brasil”

  1. Victor Bueno disse:

    Quando a empresa tira o foco da sua operação e tenta ter ganhos em outras áreas que não são o seu core business, geralmente se dão mal. Aproveito para lembrar também do caso Sadia que a empresa acabou direcionando seus recursos para operações de hedge e teve um prejuízo astronômico.
    São bons exemplos de como a gestão financeira inadequada pode afetar não só a empresa, mas o mercado como um todo. Ótima análise, parabéns!

  2. Bruno Magalhães disse:

    Excelente reflexão e análise do cenário. Em casos extremos, somente a gestão para sobreviver aos cenários adversos!