O início do governo do presidente Donald Trump reacendeu o debate sobre como o comércio internacional pode ser vantajoso no desenvolvimento econômico dos países. Em particular, o resto do mundo passou a observar como o aumento das tarifas norte- americanas sobre os produtos da China, Canadá e México pode ser (ou não) vantajoso para suas economias.
Via de regra, as análises promovidas até então têm desprezado as evidências empíricas, se deixando contaminar por algum tipo de viés ideológico. Nesse artigo buscarei respaldar a minha opinião em dados deixando de fora tudo mais que não esteja relacionado ao tema. O ponto de partida é observar o que ocorreu da última vez que o presidente Trump ocupou a Casa Branca.
Entre 2017 e 2021 a guerra comercial entre Estados Unidos (EUA) e China produziu uma série de efeitos sobre a economia brasileira. Estimativas presentes na literatura de comércio internacional indicam que um dos principais produtos afetados por essa disputa foi a soja. A China é um grande demandante do produto e os EUA um importante ofertante.
Com a disputa EUA-China ocorreram duas coisas: um importante consumidor se viu obrigado a buscar um novo mercado e um importante produtor viu seu produto ficar mais caro. À época, o Brasil aproveitou a oportunidade e expandiu em mais de 20% a quantidade e o valor exportado de soja.
Nesse sentido, pode-se dizer que o Estado de Goiás foi beneficiado com esse resultado, dada a importância do setor exportador de alimentos (em particular, a soja), em nosso território.
Contudo, o impacto não se restringiu apenas a soja. Um pesquisador do Fundação Getúlio Vargas (FGV) avaliou que as regiões brasileiras cuja indústria possuía uma produção de bens visados pela guerra comercial dos EUA aumentaram o número de empregos formais e massa salarial durante esse período.
De uma forma simples, os produtos da exportados pela China perderam competitividade e os similares feitos no Brasil ganharam força no mercado. Cabe ressaltar, que o Centro-Oeste, em particular Goiás, teve papel de destaque nesse ganho, em especial as regiões mais ao sul do Estado. Regra geral, o Brasil obteve ganhos de exportação de mais de 20%.
Com uma análise mais centrada nas mudanças da política comercial atuais, o Centro de Estudos de Negócios Globais da FGV simulou o cenário de sanções ao comércio internacional imposto pela nova gestão Trump e concluiu que os países alvo das sanções perderão espaço no comércio, registrando quedas em suas exportações para os EUA.
Não se pode negligenciar outro movimento: as empresas norte-americanas também perdem competividade, pois, grande parte do comércio internacional é composto por insumos produtivos. Dessa forma, o Brasil poderá se beneficiar, suprindo o mercado norte-americano com produtos antes ofertados pelo México e Canadá e, por que não, substituindo as exportações do EUA para outros países.
Como pode ser notado, a política internacional do governo Trump pode beneficiar o Brasil. Em Goiás, o aumento previsto na exportação de soja pode alcançar mais de R$ 7 bilhões. Porém, para que isso ocorra teremos que ter pessoas mais hábeis e pragmáticas para gerir a nossa política internacional. Na ausência desse perfil no governo federal, cabe aos Estados assumirem essa função.
Com governadores mais presentes na agenda internacional e com a missão de potencializar as políticas estaduais de promoção de exportações, poderemos ter alguma chance de explorar essa oportunidade. Temos muito a ganhar com isso.
Erik Figueiredo é diretor executivo do Instituto Mauro Borges