Se fevereiro pode ter sido considerado conturbado para o mercado brasileiro, março não deve ser diferente. Confira análise de especialista.
Se em fevereiro o mercado brasileiro viveu momentos de muita tensão, em março não deve ser diferente. A expectativa é de nova alta dos juros básicos no Brasil, que causará ainda maior impacto sobre o consumo e as atividades das empresas. O que também reflete no mercado de ações e nos investimentos.
Segundo avaliação de Jonatas Pires Faura, especialista em Asset Allocation na WIT Invest. “O aumento significativo da inflação e o já precificado aumento na taxa Selic atrapalham a atividade econômica. Principalmente as empresas que não conseguem repassar preço com o aumento dos custos e empresas endividadas”, diz. Confira o cenário para a economia brasileira em março nesta entrevista:
Houve um aumento significativo na inflação. O IPCA-15 subiu 1,23% até meados de fevereiro. A previsão da inflação não para de subir. Segundo o último Boletim Focus do Banco Central, está em 5,65% para o ano de 2025. Esse cenário pressiona o BC a aumentar a taxa Selic, atualmente em 13,25%, com expectativa de elevação para 14,25% em março.
Espera-se principalmente a decisão do Copom sobre a taxa Selic, que provavelmente irá para 14,25%, visando conter principalmente a inflação. Mas essa medida mais restritiva de política monetária pode atrapalhar o desempenho dos indicadores e da atividade econômica. No cenário político, com as novas lideranças no Congresso Nacional, devemos ver para os próximos meses um aumento na discussão de pautas importantes, como por exemplo, o fiscal e reformas.
O mercado se mantém resiliente de certa forma. Mas sem propulsão para uma tão esperada guinada. O Ibovespa se beneficiou na primeira quinzena de fevereiro com a queda do dólar. Contudo, durante a última semana de fevereiro, o dólar voltou a subir com expectativas do Copom e incertezas internas e externas, fazendo com que a Bolsa não consiga ter força para subir, o que faz com que fique “patinando” na faixa de 125.000 a 128.000 pontos.
A economia brasileira possui ótimas empresas, algumas centenárias que já passaram por diversos momentos de crise, e até por diversas moedas. O atual momento é mais um desses momentos, onde boas empresas passam por dificuldade, mas são resilientes ao longo do tempo. Alguns setores acabam sendo beneficiados e, por consequência, conseguem passar com maior facilidade por tais momentos.
Com o atual momento, setores e empresas que necessitem trabalhar com alavancagem e que tomam muita dívida no mercado sofrem. Mas empresas que conseguem manter suas margens de lucros e principalmente que já conquistaram sua base de clientes, seja pelo bom serviço ou mesmo que por concessão governamental, tem mais facilidade.
Até o momento, as que melhor performaram foram empresas ligadas aos setores de Utilidade Pública e o setor de Commodities. Como exemplo dos papeis: USIM3 (Usiminas) e SBSP3 (Sabesp). Já os setores que mais sofreram foram as do setor Imobiliário e de Educação, como as ações da Cogna e MRV, que vêm sofrendo nos últimos dias.
O aumento significativo da inflação e o já precificado aumento na taxa Selic atrapalham a atividade econômica. Principalmente as empresas que não conseguem repassar preço com o aumento dos custos e empresas endividadas. E dificultando ainda mais o mercado interno, os EUA podem anunciar novas tarifas comerciais sobre as importações brasileiras, e esse aumento no custo do importador e no preço final, potencializa ainda mais a inflação.
Do lado do Copom, espera-se o aumento da taxa Selic para 14,25%. Já do lado do Fomc, nos EUA, espera-se a manutenção da taxa de juros entre 4,25% e 4,5%. Se isso realmente acontecer, pressiona o dólar e a inflação interna a cair. Mas se ocorrer de forma diferente, trará volatilidade para os mercados, pois isso é o que têm sido precificado pelos agentes econômicos e divulgado pelos próprios respectivos Bancos Centrais.
O principal setor impactado pelas novas tarifas é o de siderurgia, impactando empresas como a Gerdau, por exemplo, que têm boa parte de sua receita vinda dos EUA. Outros setores deverão ser impactados, mas em menor escala, visto que o Brasil tem buscado novos acordos comerciais com países asiáticos e europeus para suas exportações e mitigar a dependência dos EUA.
Com essa nova tarifa de 25% sobre as importações de aço e alumínio pelos EUA, as exportações brasileiras desses produtos serão prejudicadas em um primeiro momento, até que se encontre novos parceiros comerciais para demandar essa produção. Produtos agrícolas ainda não foram citados no tarifaço de Trump, se isso acontecer, podemos ver uma queda na aprovação do governo dele nos EUA. Visto que essa medida irá fazer com que os preços dos alimentos subam, e por consequência, a inflação interna americana. Essa política protecionista de Trump, se passar do ponto, pode trazer mais malefícios do que benefícios para seu mandato, para a economia americana e mundial. Trazendo mais inflação e uma desglobalização para o mundo.