sexta-feira, 20 de junho de 2025
Projetos inovadores esperam patrocinadores em Goiás

Projetos inovadores esperam patrocinadores em Goiás

Mesmo com reconhecimento nacional e internacional, produtos desenvolvidos por alunos do Sesi ficam restritos à escola.

6 de junho de 2025

Alunos do Sesi Goiânia desenvolveram uma pulseira para pessoas com deficiência auditiva

No contraturno das aulas, estudantes do Sesi Planalto, em Goiânia, se dedicam à construção de soluções inovadoras para alguns gargalos da sociedade. Com criatividade, pesquisa e colaboração, eles participam da competição internacional de robótica First Lego League (FLL).

Ao longo dos anos, mais de 300 alunos passaram pelas equipes do projeto. Que já somam 78 prêmios e cerca de pelo menos dez participações em eventos internacionais. Incluindo passagens pela Hungria, Estados Unidos e Austrália.

Apesar das iniciativas bem fundamentadas e da dedicação dos jovens, a principal barreira destacada pelos professores é a falta de visibilidade e confiança no potencial dos projetos. A maioria das soluções não avança além dos torneios por ausência de patrocínio ou apoio institucional.

“São ideias que poderiam ser úteis para muita gente, mas ficam restritas à escola. Falta quem se disponha a continuar”, relata a Ana Elisa Motta, técnica das equipes Titãs e Origens, formadas por alunos de 9 a 15 anos.

Gel

As criações surgem a partir de problemas propostos pela competição, mas são sempre conectadas às dores da sociedade. Um exemplo recente foi o Hydragel, um produto desenvolvido para reduzir a sensação de boca seca em mergulhadores.

O gel passou por testes com cerca de 300 pessoas que lidam com o mergulho em diferentes estados brasileiros. O produto ainda passou por ajustes com base nos feedbacks dos usuários e foi submetido a pedido de patente — tudo escrito pelos próprios alunos.

A inovação chamou atenção de pesquisadores da área da saúde, após a orientação de uma professora da Universidade Federal de Goiás (UFG). Ficou notório que o produto poderia ajudar pacientes oncológicos, diabéticos e pessoas que fazem uso contínuo de medicamentos, que também sofrem com a problemática de ficarem com a boca seca.
Ana Elisa destaca ainda que os professores apenas orientam e que os alunos são responsáveis pela pesquisa, entrevista com especialistas e no desenvolvimento de protótipos e nos testes das soluções em campo. “Tudo nasce dos alunos. Desde a primeira entrevista até os testes e a redação da patente”, destaca a professora.

Ana Elisa Mota com os alunos: “São ideias que poderiam ser úteis para muita gente, mas ficam restritas à escola. Falta quem se disponha a continuar”

Outros gargalos

Outro obstáculo é o acesso a profissionais que possam orientar as etapas mais técnicas, como propriedade intelectual, regulamentações e modelos de negócio. A rede de apoio existe, mas depende de iniciativas voluntárias.

Além disso, Anna afirma que sente que há o receio por parte de empresários em investir em algo que não gere lucro a curto prazo. “Muitas vezes, o projeto acaba ali porque não há quem se interesse em produzir ou apoiar. Falta gente que olhe para isso com seriedade”, lamenta.

A professora ainda elenca a falta de políticas públicas que facilitem e estabeleçam pontes entre as escolas e centros de pesquisa, universidades e órgãos, como o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A formação continuada de professores também é apontada como estratégia fundamental para que essas ideias possam ser acompanhadas de forma técnica e sustentável.

Novos desafios

Em cada temporada do First Lego League (FLL), os grupos se debruçam sobre novos temas, como acessibilidade, sustentabilidade e segurança. Além do Hydragel, os alunos já desenvolveram uma pulseira para pessoas com deficiência auditiva curtirem música ao sentir vibrações rítmicas, cercas inteligentes para prevenir acidentes com animais que possam vir a fugir e acessar rodovias

Também desenvolveram um líquido ecológico para limpar calçadas afetadas pelo líquido expelido por jamelões, além de um bebedouro que evita contaminação cruzada e reaproveita água para irrigação de plantas.

Além disso, a unidade conta com as equipes FTC e FRC, que constroem robôs com características industriais que, durante as competições, devem cumprir alguns desafios. Essas equipes, em questão, são comandadas pelo professor Fernando da Silva Barbosa. Essas turmas são formadas por alunos do 9º ano do ensino fundamental até o 3º ano do ensino médio.

Impacto

Ele pontua que, além das conquistas em torneios, há o impacto do projeto na vida dos estudantes. Muitos melhoram o desempenho acadêmico, desenvolvem habilidades de comunicação, liderança e trabalho em equipe. Alguns seguem para áreas como engenharia, medicina ou empreendedorismo.

“Quando a gente fala em ganhar um torneio, o que importa mesmo é ver o aluno crescer. Ver aquele menino ou menina, que era tímido, hoje dando palestra, se expressando com clareza. Isso é um verdadeiro prêmio”, frisa.

Os professores destacam que, neste ano, a temática será arqueologia. Enquanto a pergunta que norteia os trabalhos não é revelada, os alunos já estão estudando mais sobre o assunto para buscar, mais uma vez, as melhores soluções.

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