domingo, 28 de abril de 2024
´Investidores precisam manter a cautela´

´Investidores precisam manter a cautela´

Investidores precisam manter a cautela com a vitória de Lula, avalia o economista e diretor da WIT Asset, Felipe Reymond Simões. Entenda.

31 de outubro de 2022

Felipe Reymond: “A expectativa é muito boa para o Brasil em 2023”

Os investidores precisam manter a cautela com a vitória do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições deste domingo (30/10) no Brasil. A avaliação é do economista e diretor da WIT Asset, Felipe Reymond Simões. “Precisamos ter algo mais concreto do que vai ser feito, principalmente do presidente eleito Lula, que não anunciou nada em relação à economia. Precisamos esperar quem vai ser o ministro da Fazenda. Isso vai ser bastante importante”, diz.

Entretanto, o economista mantém otimismo quanto ao futuro da economia brasileira. “A expectativa é muito boa para o Brasil em 2023. Estamos com tudo para ter um crescimento relevante para o PIB, provavelmente acima de 3% para 2023. E a inflação está bastante sob controle”, afirma. Contudo, ele alerta para alguns fatores de risco, especialmente vindos do exterior, como o viés de alta dos juros nos EUA e Europa, além da guerra na Ucrânia.

Confira a entrevista:

Com a vitória do ex-presidente Lula, quais as expectativas para o último bimestre de 2022 no mercado financeiro? E para 2023?

Provavelmente haverá um reajuste mais forte também nesse primeiro momento de queda para as estatais. Talvez algo um pouco mais favorável para as ações educacionais e algumas empresas no setor de varejo também irão se beneficiar com a eleição do petista. Mas, novamente, acho que o mercado vai voltar as atenções para o que está acontecendo lá fora e vai se ajustando aqui no Brasil. Conforme o novo governo vai adotando algumas medidas na economia de forma mais concreta.

Como proteger a carteira de investimentos a partir de agora e em 2023? Quando chegar 2023, podemos indicar quais as primeiras decisões que os investidores devem tomar diante do novo governo Lula?

Realmente, precisaríamos ter algo mais concreto do que vai ser feito, principalmente do presidente eleito Lula que não anunciou nada em relação à economia. Precisamos esperar quem vai ser o ministro da Fazenda. Isso vai ser bastante importante. Eu adoto uma linha de manter uma carteira bem balanceada e de acordo com o perfil de risco de cada investidor. Ela precisa estar ajustada para que não sofra com nenhuma volatilidade que pode continuar tendo ano que vem, porque a situação internacional ainda é bem complicada.

Poderemos ver vários países entrando em recessão, vários países com inflação alta tomando medidas mais austeras na economia para conter essa inflação. É provável que iremos continuar com um cenário desafiador ano que vem, então a gente pode esperar bastante volatilidade. Principalmente para o investidor mais conservador, é importante ter um ajuste bem feito em relação ao risco que se pode correr. E ter em mente que a volatilidade dos investimentos pode continuar bastante alta.

Pensando no investidor brasileiro, quais são as melhores oportunidades no momento?

O momento é muito bom para investir porque os ativos locais continuam bastante desvalorizados e os internacionais também. Tivemos quedas muito fortes em bolsas americanas e europeias. Apesar de o momento ser mais adverso e complexo no exterior, há boas oportunidades de investimento fora do país. Para quem for investir offshore, é importante ter bastante cautela e pensar no longo prazo mesmo porque os ciclos de baixa podem durar bastante tempo. Então, um investimento feito agora pode sofrer ao longo de anos para que se tenha um retorno que seja próximo do esperado.

A derrubada do teto de gastos é negativa para investimentos, trazendo incerteza que é refletida em uma taxa de juros mais alta.

Qual a expectativa para o futuro do BC? A sua autonomia está em risco?

Eu não acredito que a autonomia do BC seja uma pauta que vá sofrer alterações. Inclusive, Lula já fez elogios no passado ao Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Então, acredito que o Banco Central deve seguir da forma que está.

Os ativos brasileiros têm performado bem em relação aos pares globais. A que se deve esse fato? O Brasil tem sido visto como uma alternativa às incertezas globais elevadas?

A gente costuma ter ciclos financeiros em mercados emergentes que acontecem em momentos opostos aos ciclos de mercados desenvolvidos. Então, é necessário que o fluxo saia de mercados desenvolvidos para que entre em mercados emergentes e, consequentemente, puxe nossos ativos locais. Já observamos isso acontecendo desde o ano passado. Esse fluxo tem migrado para países emergentes e o Brasil é o país que mais se beneficia, pois é muito forte em commodities e institucionalmente estável.

Então, o Brasil se beneficia bastante deste movimento. Um aumento de juros nos EUA gera pressão para empresas do S&P, já que o mercado exige retorno cada vez maior para investir nelas, pois o investimento livre de risco está remunerando mais. Então, esse fluxo de saída das bolsas americanas pode migrar para países emergentes como o Brasil. Por outro lado, os juros mais altos nos EUA pressionam a nossa Selic ainda mais. Então, se a gente tiver juros em um patamar mais elevado que o previsto, do que o mercado já está precificando, e durante mais tempo, a renda variável pode se tornar menos atrativa comparada à renda fixa.

O mercado financeiro tem se preocupado a respeito de como o próximo governo vai tratar o teto de gastos bem como a questão fiscal. De que forma esse tema impacta os investimentos?

A questão do teto de gastos foi uma medida importante no governo Temer no passado porque traz maior previsibilidade sobre quanto o estado vai gastar. Um estado sem previsibilidade de gastos implica numa situação preocupante em relação ao fiscal. Então, a situação fiscal fica em cheque se não há uma previsibilidade, se não tem decretado quanto o estado pode gastar. Então, se derrubar este teto de gastos complica porque aumenta o prêmio de risco que os investidores exigem para investir em ativos brasileiros.

E isso implica em uma taxa de juros mais alta para o país. Se os investidores estão menos propensos a investir, é preciso remunerá-los melhor para que eles aceitem este risco. Então, acaba refletindo em uma taxa de juros mais alta, fazendo com que o custo de oportunidades seja alto. A derrubada do teto de gastos é negativa para investimentos, trazendo incerteza que é refletida em uma taxa de juros mais alta. E daí os mercados de bolsa sofrem com isso.

Há expectativa de melhora da economia brasileira para 2023? Quando você acredita que deve se iniciar o ciclo de queda de juros no Brasil?

A expectativa é muito boa para o Brasil em 2023. Estamos com tudo para ter um crescimento relevante para o PIB, provavelmente acima de 3% para 2023. E a inflação está bastante sob controle. Comparando a inflação com pares mundiais, o Brasil teve o quarto melhor número do G20 nesses últimos tempos, com 3 meses seguidos de deflação. Estamos com cenário de crescimento bem interessante para o Brasil, com inflação sob controle e, provavelmente, início de ciclo de queda da taxa de juros que beneficia ativos de risco, de renda variável. Acredito que o ciclo de queda da taxa de juros comece no primeiro semestre do ano que vem. Não dá pra saber exatamente quando. Mas eu acredito que seja em algum momento do primeiro semestre de 2023.

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Jornalista e empreendedor

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