quinta-feira, 2 de maio de 2024
Mabel aponta os maiores gargalos da indústria goiana

Mabel aponta os maiores gargalos da indústria goiana

Presidente da Fieg fala sobre os desafios para a indústria goiana, da reforma tributária e de uma candidatura para prefeito de Goiânia.

24 de setembro de 2023

Sandro Mabel: “Nós estamos precisando é que não atrapalhem o nosso crescimento.”

Altas taxas de juros, excesso de burocracia e elevada carga tributária são alguns dos principais gargalos que a indústria enfrenta em Goiás. A exportação de produtos in natura, das áreas de agricultura, pecuária e mineração também prejudica o pleno desenvolvimento do setor. A avaliação é do presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), Sandro Mabel.

Em entrevista exclusiva ao EMPREENDER EM GOIÁS (EG), o empresário fala também sobre os potenciais prejuízos que o projeto de reforma tributária pode trazer para o Estado. E reconhece os esforços do governador Ronaldo Caiado – de quem foi um crítico enfático no primeiro mandato – para evitar grandes prejuízos para Goiás com o projeto que tramita no Senado. Além disso, Mabel também fala sobre uma candidatura sua à Prefeitura de Goiânia.

Quais são os principais gargalos que a indústria goiana enfrenta?

Os principais gargalos para o crescimento da produção: se tem crédito, está extremamente alto, excesso de burocracia e a carga tributária, que, no Brasil cai em cima da indústria. Prova disso é que, apesar de não representar a maioria do PIB, a indústria representa a maioria da arrecadação de IPI, ICMS, Imposto de Renda. De todos os tributos arrecadados, a indústria é a que paga mais. Essa carga elevada impede maior competitividade, maior crescimento das empresas e o acesso do consumidor, que tem cada vez mais seus salários combalidos.

O senhor declarou recentemente que as tradings faziam mal ao desenvolvimento do setor produtivo goiano, especialmente ao agronegócio. Como está essa realidade hoje?

As tradings continuam fazendo mal ao desenvolvimento do setor produtivo em Goiás. Na verdade, elas fazem o papel delas. O que é preciso é darmos condições para que, ao invés de produzir em Goiás, com incentivos e uma série de coisas, aproveitar os nossos produtos da pecuária, da agricultura e da mineração, nós exportamos a grande maioria, ou quase todos, in natura. O erro não está nas tradings, elas aproveitam a oportunidade de ser incentivadas a exportarem produto in natura que não agrega nenhum centavo de imposto, nenhum emprego a mais e nem o recolhimento de nada. Então, Goiás perde em todos os pontos. Continuamos ainda nesta realidade.

O atual projeto de reforma tributária que tramita no Congresso é, de fato, prejudicial para o setor produtivo goiano?

O atual projeto, hoje no Senado, é muito ruim para o Estado. Goiás está em uma fase em que não está precisando que ninguém ajude. Nós estamos precisando é que não atrapalhem o nosso crescimento. E é o que está acontecendo com esse projeto de reforma tributária. É um projeto que foi tocado às pressas na Câmara dos Deputados. O senador Vanderlan (Cardoso, presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado) botou o pé na porta e segurou esse projeto dentro da CAE e conseguiu abrir uma série de debates.

Esse projeto tem pontos como o final dos incentivos antecipados – em vez de 2032, a força do incentivo começa a baixar a partir de 2029 – e isso vai desestimular. Temos também a ausência de uma trava de carga tributária. Então, nesse projeto pode-se aumentar a carga tributária, criar outros impostos, nada diz que não, enquanto deveria haver uma trava. Esperamos que a carga possa descer com a reforma administrativa, mas ninguém fala nisso. As pessoas só falam em tributar cada vez mais. Então o projeto é danoso para Goiás. Para nós, o melhor destino desse projeto seria a não aprovação.

Há quase dois anos o senhor anunciou investimentos de R$ 1 bilhão da Fieg até 2026. O que já foi aplicado?

Nós anunciamos R$ 1 bilhão e já aplicamos quase R$ 100 milhões. Temos licitado para o que vai começar este ano. Por exemplo, uma escola em Luziânia, outra em Mineiros e somente nessas duas escolas serão gastos outros R$ 100 milhões. Temos para o próximo ano uma série de outras licitações, o crescimento das escolas de Rio Verde, vamos fazer em Goianésia, estamos construindo escolas no entorno de Brasília, isso também vai consumir mais R$ 100 milhões. Temos ainda a reforma de várias escolas nossas. Na verdade, é uma modernização total, não pode nem chamar de reforma, é quase fazer uma nova. O estado inteiro já está recebendo muitos computadores e laboratórios de informática, robótica, matemática, empreendedorismo. Nós devemos estar gastando, em média, R$ 200 milhões por ano, desde o ano passado. Em 2024, 2025 e 2026 manteremos esse investimento de R$ 200 milhões por ano.

“Vamos ajudar na discussão para escolher um bom prefeito para Goiânia”

Em 2020, o senhor declarou que o setor produtivo estaria sem rumo em Goiás, numa crítica ao governo de Ronaldo Caiado. Essa opinião mudou? Por quê?

Acho que o governador Ronaldo Caiado realmente começou a encarar mais forte essa questão da produção da indústria. Começou a ver que, se ele não lutar pela reforma tributária – como tem lutado muito, e nós temos de destacar isso daí –, se ele não lutar para trazer outras empresas, criar outros tipos de atrativos para o estado, as indústrias que estão aqui, com essa reforma tributária do jeito que é, se ela realmente passar, teremos um esvaziamento muito forte no estado. Podemos ter uma desindustrialização e, consequentemente, um desemprego alto. Então, minha opinião vem mudando, sim. Caiado, depois da reeleição, disse publicamente e tem também feito ações no sentido de prestigiar o crescimento industrial do estado.

O seu nome tem sido citado como potencial candidato à Prefeitura de Goiânia. Há interesse do senhor em voltar para a política e disputar uma eleição?

As pessoas têm falado muito nesse negócio de voltarmos para a política, disputar a Prefeitura de Goiânia porque hoje todas as pesquisas qualitativas indicam que tanto a capital como Aparecida e Anápolis querem um gestor. Querem uma pessoa que saiba fazer a cidade andar, ficar cada vez melhor, uma série de coisas que nós temos a experiência de fazer, como fizemos na Fieg. Assumimos a entidade, fizemos uma revolução grande lá dentro, tudo com gestão.

Em uma cidade como Goiânia, como Aparecida, certamente teríamos condição de fazer um grande trabalho. Mas acho que meu tempo já passou. Estou avaliando esse assunto porque as pessoas têm insistido nisso. Mas a minha disposição pessoal, meu coração, vamos dizer assim, não me incentiva. Acho que já cumpri a minha missão como deputado, por 24 anos, e acho que já dei a minha cota política para ajudar Goiás. Mas vamos ajudar na discussão para escolher um bom prefeito para Goiânia.

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