sábado, 5 de outubro de 2024
Schreiner: ‘Produtor enfrenta baixa rentabilidade’

Schreiner: ‘Produtor enfrenta baixa rentabilidade’

Confira nesta entrevista exclusiva com José Mário Schreiner (FAEG) quais são os maiores desafios do agronegócio para 2024.

16 de dezembro de 2023

“O próximo ano vai demandar do produtor muito planejamento e muita precaução”, diz Schreiner

Embora o agronegócio tenha desacelerado no segundo semestre deste ano, no acumulado de 2023 o resultado ainda é bem positivo. Especialmente por conta do aumento da produção da soja, milho e nos abates de animais. Porém, este crescimento não tem proporcionado maior rentabilidade ao produtor, por conta da redução dos preços. A análise é do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (FAEG), José Mário Schreiner, em entrevista exclusiva ao EMPREENDER EM GOIÁS.

“O próximo ano vai demandar muito planejamento e muita precaução. A questão dos preços continuará a permear o setor agropecuário. Apesar de uma redução nos custos de produção das principais culturas, a renda tende a continuar bastante mitigada. É muito diferente do que foi nos anos de 2022 e 2021, em que tínhamos boas margens para o produtor”, enfatiza.

Schreiner também avalia com preocupação a reforma tributária que está sendo aprovada pelo Congresso Nacional, por conta de potencial aumento de custos ao produtor, embora também destaque vários avanços no projeto. Continua a criticar a taxa do agro, criada pelo Fundeinfra do governo de Goiás, mas diz que agora o setor precisa é cobrar a realização dos investimentos do estado. E, em relação ao governo do presidente Lula (PT), defende criar pontes e não muros. Confira a entrevista na íntegra:

O PIB brasileiro desacelerou no segundo semestre deste ano e um dos principais fatores é a agropecuária. O que aconteceu?

Fazendo uma avaliação do PIB do terceiro trimestre deste ano, é possível notar uma desaceleração do setor agropecuário frente ao trimestre anterior. Isso porque no terceiro trimestre já não temos a principal atividade agrícola, a soja, que neste caso já foi colhida e comercializada. Porém, quando verificamos o acumulado dos trimestres do ano de 2003, a agropecuária teve evolução de 18,1%. Tivemos uma grande produção de soja este ano, também uma grande produção de milho e uma evolução nos abates. Tudo isso proporcionou um ganho do setor agropecuário em relação ao PIB. O que temos que analisar é a conjuntura macro juntando os três trimestres do ano.

Por que?

Até o momento, nós temos o setor agropecuário sendo um grande potencializador do PIB nacional por tudo que aconteceu em 2023. Ressalto ainda que segundo dados das exportações de Goiás, divulgados pelo Ministério da Agricultura, o setor agropecuário foi responsável por 88% do total de exportações. Isso demonstra a força e a pujança do agronegócio no nosso estado e reflete na importância do setor no Brasil.

Qual a avaliação do desempenho do setor em 2023?

O setor agropecuário em 2023 teve uma produção bastante nivelada, um crescimento produtivo expressivo. Porém foi um crescimento que não proporcionou maiores rentabilidades para o produtor. Muito pelo contrário, o produtor teve um ano de baixa rentabilidade. Isso porque os preços mitigaram bastante, tanto o preço do milho, quanto o de soja, do boi. E também o preço da cadeia produtiva do leite, que atualmente passa por uma crise.

Quais os reflexos?

Praticamente todos os preços reduziram, fazendo com que este ano tivéssemos um bom avanço produtivo. Porém, com preços menores, e isso reflete no valor bruto da produção. Tivemos um valor bruto da produção no agronegócio goiano menor do que o ano passado. Contudo, este resultado fez com que tivéssemos um PIB bastante considerável. Tivemos um crescimento produtivo. Mas, em renda, em receita por agricultor, esse crescimento produtivo foi impedido de proporcionar melhores resultados pela redução nos preços dos produtos.

Esse ano e o de 2024 vão ser diferentes. Por isso, vão demandar muita gestão e planejamento do produtor”.

Quais as perspectivas do setor agropecuário para 2024?

Vai ser um ano que vai demandar muito planejamento e muita precaução no setor. Planejamento porque as questões de preço continuarão a permear o setor agropecuário, ou seja, preços mais mitigados vão continuar presentes. Apesar de uma redução nos custos de produção das principais culturas, a renda tende a continuar bastante mitigada. É muito diferente do que foi nos anos de 2022 e 2021, em que tínhamos boas margens para o produtor. Esse ano e o de 2024 vão ser diferentes. Por isso, vão demandar muita gestão do produtor.

Qual é outra preocupação?

O produtor vai ter que gerir bastante os riscos de preço e climático, uma vez que estamos no ano de fenômeno climático El Niño, um dos fatores que pode afetar a produção. Ademais, temos pela frente outros grandes desafios de fatores externos, como o atual cenário econômico mundial, que possivelmente vai afetar a economia brasileira em 2024. Então, tudo isso vai demandar do produtor bastante planejamento e bastante precaução.

Quais serão os impactos da aprovação da reforma tributária para o agronegócio?

A reforma tributária, depois de muita discussão e de muita luta do setor produtivo rural, deve trazer uma majoração em relação aos custos de produção desse produtor. Isso porque a modificação da forma de se tributar no Brasil irá impactar no aumento do custo de produção. A nossa grande preocupação é com uma tributação maior, principalmente para o consumidor final. É importante ressaltar que, mesmo diante dessa tributação, conseguimos alguns avanços, como por exemplo, a retirada do produtor que tem uma renda bruta anual abaixo de R$ 3,6 milhões por ano. Ele está fora dessa nova majoração de tributos. Outra conquista importante foi a retirada dessa nova tributação dos produtos que compõem a cesta básica. Também outra vitória foi a redução de 60% para insumos agropecuários e para o agronegócio. Isso possivelmente vai mitigar esses possíveis efeitos da nova tributação.

Para 2024, há possibilidade de ampliar a relação comercial Goiás-China?

Com certeza, a China já é o nosso principal mercado consumidor. Mais de 50% de todas as nossas exportações do agronegócio vão para esse gigante asiático. E eles compram cada vez mais soja. Em 2023, eles compraram milho algo que nunca tinha ocorrido. Também são os principais compradores da nossa carne bovina. Então, acreditamos que podemos aumentar a exportação desses produtos que já são apreciados pelos chineses e explorar outras oportunidades. As nossas exportações de frango com certeza têm potencial par ampliação. O mercado de pulses (sementes secas de leguminosas como por exemplo, feijões, grãos de bico, lentilha e ervilha), que cresce muito em Goiás, pode ser também uma ótima oportunidade de ganho de mercado. Dito isso de forma geral esse intercâmbio pode ser favorecido.

Como está o processo de análise de emissão de licenças ambientais em Goiás?

O processo de licença ambiental vai passando por modernizações. E percebemos que, com o Sistema Ipê, foi realizado um novo passo de modernização. Temos muito ainda a avançar, principalmente na questão de celeridade dessas licenças. Uma vez que o produtor entrega seus documentos de forma correta e apresenta toda a sua solicitação. Tudo está de forma legalizada e de acordo com a licitação vigente. Acreditamos que deve ter mais celeridade nesse processo. Mas, avançamos bastante e esperamos avançar cada vez mais.

O governo de Goiás criou o Fundeinfra, que neste ano já arrecadou R$ 1 bilhão do agronegócio. Inicialmente a FAEG foi contra a cobrança da taxa. E agora, qual a avaliação?

Qualquer taxa que impacta diretamente para o produtor rural retirando a sua rentabilidade, nós precisamos discuti-la para ver os impactos reais que podem afetar diretamente a rentabilidade do produtor. Principalmente em um ano como 2023 e a previsão para 2024, que acreditamos que os impactos serão grandes. Frente a isso, esse foi o foco do nosso posicionamento no momento da discussão. Agora que a taxa já está em vigor e ela está sendo arrecadada, o setor necessita de avaliação em relação a melhor aplicação possível desse valor. Melhorando as estradas, o nosso processo de escoamento da safra, para que a gente possa ter uma aplicabilidade real desse recurso e ele volte realmente para benefício do produtor. Então, nesse momento, a FAEG está trabalhando na melhor aplicação dessa taxa para que ela de fato se transforme em benefício para o produtor.

É preciso manter a discussão e o diálogo (com o governo Lula) para que se encontrem as soluções.”

É possível melhorar a relação do governo Lula com o agronegócio?

A política é feita não da criação de muros, mas da criação de pontes. Nesse sentido, é fundamental a interlocução do setor produtivo com o atual governo federal, feita muitas vezes pelo Ministério da Agricultura, que é o principal agente nesse sentido. É preciso que ela seja cada vez mais aprimorada para que não tenhamos dificuldades nem insegurança jurídica para com o setor. Com certeza, temos muito desafios pela frente como, por exemplo, as invasões de terra. Precisamos trazer maior segurança ao produtor. É preciso manter a discussão e o diálogo para que se encontrem as soluções. E, nesse sentido, é necessário um avanço nas discussões.

Como a agropecuária goiana pode melhorar ainda mais o seu desempenho?

Um dos principais pontos é a gestão e, principalmente, a gestão dos riscos de preço, financeiro, do próprio mercado, que permeiam a atividade. Então, é importante que o produtor se organize e faça o gerenciamento do seu custo de produção na ponta do lápis e trabalhe dentro da sua margem. Isso para que ele saiba o melhor momento de comercializar e se proteger principalmente dos riscos climáticos, pois sabemos o que as perdas produtivas podem trazer. Elas podem causar impactos muito grandes na vida do produtor, podem gerar fortes perdas na sua renda e na sua receita. Então, o que o produtor pode fazer é gerir seus riscos, manter a sua atividade para que ele tenha melhores resultados.

O que a FAEG tem contribuído pra isso?

Então, o sistema FAEG, SENAR e IFAG traz para o setor produtivo vários benefícios com foco na melhoria de vida do produtor. A Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás tem atuado fortemente na defesa do produtor, seja no setor privado ou no setor público, para que ele tenha melhores condições para a sua atividade e maior segurança jurídica. É nisso que a FAEG busca, trazer uma melhor condição de vida para esse produtor por meio da sua representatividade.

E o papel do Senar e do IFAG neste contexto?

O SENAR, a maior escola da terra, oferece treinamentos e capacitação não só para os produtores rurais, mas para a população em geral, sobretudo para a população do campo. Além disso, o Senar tem o programa de Assistência técnica e Gerencial (ATeG) que visa atender o produtor rural, aqueles que necessitam dessa assistência técnica para manter a sua atividade produtiva ou para os produtores que necessitam melhorar e aumentar a sua produtividade. Em 2023, iniciamos com 5 mil produtores assistidos e finalizamos o ano ultrapassando a nossa meta com mais de 12 mil produtores rurais assistidos pelo Senar Goiás. E, por fim, o Instituto para o Fortalecimento Agropecuário, o IFAG, gera informação, essas informações que facilitam a tomada de decisão assertiva do produtor rural. Então, é nesse sentido que o sistema FAEG, SENA e IFAG, pode e está melhorando a vida do produtor.

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