segunda-feira, 29 de abril de 2024
‘Agro é a principal atividade econômica de Goiás’

‘Agro é a principal atividade econômica de Goiás’

Secretário estadual Pedro Leonardo de Paula Rezende (Agricultura) é taxativo: o agronegócio goiano é a locomotiva da economia do Estado.

1 de outubro de 2023

“Goiás se consolida, a partir da safra agrícola 2022/2023, como um dos três maiores produtores de grãos do Brasil”, diz Pedro Leonardo

Goiás tem batido recordes de produção e ocupa a terceira posição no ranking dos maiores produtores de grãos do país. Investimentos em tecnologia aumentam a produtividade e a tendência é de que esse cenário favorável permaneça. Inclusive com a possibilidade de aumentar a área cultivada coma recuperação de pastagens degradadas.

A análise é do titular da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) de Goiás, Pedro Leonardo de Paula Rezende. Em entrevista exclusiva ao EMPREENDER EM GOIÁS (EG), ele falou também dos resultados positivos que o estado espera de contatos diplomáticos com parceiros comerciais, da perspectiva prejudicial da reforma tributária para os municípios com vocação agrícola em Goiás e da agricultura familiar, defendendo a inclusão produtiva. Confira.

A agropecuária tem batido recordes em Goiás de produção, principalmente em relação à safra agrícola. Há como manter este crescimento sustentado nos próximos anos? Quais são as expectativas para o setor?

Goiás se consolida, a partir da safra agrícola 2022/2023, como um dos três maiores produtores de grãos do Brasil. Nossa expectativa é de que para os próximos anos agrícolas esse comportamento continue, numa tendência de crescimento. Tendo em vista que os produtores cada vez mais têm investido em tecnologias, em cultivares mais produtivas, mais adaptadas. O que se espera é que, não havendo nenhum risco climático que possa comprometer a produtividade, esse comportamento permaneça pelos próximos anos.

Há perspectiva de aumento da área cultivada?

Há mais de cinco anos que Goiás tem apresentado sucessivos recordes de produção. O diferencial que Goiás tem é sua capacidade de expansão das áreas agricultáveis. Além dos indicadores de produtividade, o que se espera é um aumento da área cultivada com grãos, o que tem como resultado principal um aumento de produtividade. No ano agrícola 2022/23 aproximadamente 7 milhões de hectares foram cultivados em Goiás. Mas o estado ainda tem capacidade de até dobrar isto. As pastagens degradadas têm sido convertidas em áreas agrícolas, sobretudo nas grandes fronteiras agrícolas ainda em desenvolvimento, concentradas nas regiões Norte e Nordeste do estado e no Vale do Araguaia, uma fronteira agrícola importante.

O agronegócio é realmente o responsável por esse crescimento?

Com certeza. O agronegócio é a principal atividade econômica de Goiás. O setor tem contribuído para os indicadores de crescimento da economia, que mostram que 82% do que o estado exporta vem do agronegócio. Além disso, os indicadores de crescimento do PIB são impulsionados principalmente pelo setor. Vale lembrar que Goiás cresce na proporção do dobro da média nacional, que é de 2,2%. O crescimento do estado é de 6,6%.

Economistas afirmam que Goiás ainda agrega pouco valor à sua produção agrícola e alguns criticam o crescimento de tradings no Estado. Como o senhor avalia?

Isso em parte é verdade. Até porque a maior parte de tudo o que o estado exporta está vinculado ao complexo da soja e os principais compradores têm manifestado interesse em adquirir a soja in natura, em grãos. O setor tem buscado formas de agregar valor no seu principal produto de exportação e temos buscado a aproximação com esses principais parceiros comerciais. Principalmente os que mais importam produtos provenientes do complexo da soja. Esperamos exportar cada vez mais o óleo degomado, o farelo de soja produzido aqui e reconhecido internacionalmente por seus valores nutricionais. Da mesma forma, a carne in natura é um produto extremamente importante. No saldo da balança comercial, o que esperamos é habilitar novas plantas frigoríficas em Goiás. Que possam exportar produtos que agreguem valor mediante o processamento industrial com a habilitação de novas plantas frigoríficas.

O estado recebeu recentemente missões, da China, do embaixador de Israel, em Flores de Goiás. Já há alguma coisa concreta das tratativas com essas missões?

Isso faz parte de todo esse esforço de demonstrar as potencialidades de Goiás aos principais parceiros comerciais. A exemplo disso, recebemos pela primeira vez na história em Goiás o embaixador da China, maior parceiro comercial do estado. Recentemente recebemos uma comitiva com 12 embaixadores de países que têm relacionamento comercial importante com Goiás. O que esperamos é a busca por uma cooperação bilateral, não só comercial, mas também de tecnologia. Como resultado concreto da visita da China, recebemos do governo chinês o convite para que o governador Ronaldo Caiado possa visitar as principais províncias da República da China. Onde pretendemos assinar uma série de acordos de cooperação técnica bilateral tanto na área comercial, buscando investidores chineses em áreas estratégicas.

Da mesma forma, o governo de Goiás enviará uma comitiva para Israel por ocasião da Agritec, a maior feira de agricultura familiar do mundo. Israel está na vanguarda das tecnologias, principalmente na área de irrigação. E já tivemos uma sinalização da Embaixada de Israel no sentido de assinarmos um acordo de cooperação técnica voltado ao desenvolvimento da fruticultura na região Nordeste do estado. Mediante investimentos realizados por empresas de irrigação israelenses que vão disponibilizar as tecnologias para o Polo de Fruticultura do Vale do Paranã, que queremos consolidar como um dos principais pólos produtores de frutas do Brasil.

A pecuária de Goiás vive um momento adverso, por conta do comportamento cíclico da atividade e aumento dos custos da produção”

Ao contrário da agricultura, a pecuária goiana tem perdido terreno no Brasil. Segundo o IBGE, o rebanho bovino goiano passou a ser o terceiro maior do País, perdendo a segunda posição para o Pará. O que acontece com este setor e quais as perspectivas para ele?

Na verdade, não houve uma redução do rebanho do estado, de aproximadamente 24 milhões de cabeças. Pará, em dimensões territoriais, tem quase o dobro de Goiás onde desenvolve predominantemente a pecuária extensiva. Mas a pecuária de Goiás vive um momento adverso, por conta do comportamento cíclico da atividade e aumento dos custos da produção. É natural viver momentos cíclicos, mas o pecuarista tem condições de enfrentamento dessas situações adversas. Esperamos poder superar esse momento o mais rápido possível. Goiás hoje tem o segundo maior número de fazendas aptas à exportação de carne para a União Europeia, o mercado mais exigente em relação aos requisitos sanitários, aos aspectos qualitativos. Além disso, a pecuária exercida em Goiás atende às exigências de sustentabilidade ambiental. Goiás permanece na vanguarda da pecuária no país, como um dos maiores produtores e exportadores de carne bovina.

Temporariamente, o setor agropecuário está enfrentando várias crises: leite, preços em baixa, etc. O que a Secretaria da Agricultura tem feito para atenuar os efeitos dessas crises?

Nós entendemos que o mais importante para que esse segmento continue a contribuir com os resultados econômicos que o estado tem apresentado é a promoção da inclusão produtiva, principalmente os produtores da agricultura familiar. Muitos produtores ainda não têm condições de se beneficiar de todas as oportunidades de desenvolvimento proporcionadas pelo agronegócio. Nesse sentido, o governo de Goiás, através da Secretaria de Agricultura e das jurisdicionadas, tem realizado políticas públicas em favor da inclusão produtiva dos produtores da agricultura familiar voltadas à capacitação por meio de programas.

O principal deles é o Goiás Social, no qual os produtores recebem ainda recurso pelo cartão para adquirir insumos para iniciar ou melhorar o processo produtivo. Há políticas públicas voltadas também à comercialização, que é um dos pontos da cadeia de produção em que muitas vezes o produtor se vê em mais dificuldade. Nesse sentido, a Seapa, através da Emater, tem executado o Programa de Aquisição de Alimentos, o PAA estadual, no qual o governo de Goiás adquire toda a produção da agricultura familiar e doa às entidades filantrópicas de interesse público.

Como está o financiamento para os agricultores familiares?

Temos buscado o fortalecimento do crédito rural. O governo de Goiás lançou uma linha específica de crédito para os produtores da agricultura familiar, o Produtor Empreendedor, da Goiás Fomento. O crédito rural é um dos pilares para o fortalecimento da agricultura familiar para proporcionarmos oportunidades de desenvolvimento também a esses produtores. Temos buscado ainda a inclusão digital dos produtores rurais. O acesso à internet na zona rural continua um desafio. Em parceria com a Secretaria de Ciência e Tecnologia, torres estão sendo adquiridas para instalar nos assentamentos rurais, que são mais de 400 em Goiás com mais de 20 mil produtores.

O relacionamento (do governo com o agronegócio) foi totalmente pacificado mediante discussões com as entidades representativas de classe.”

Como está a relação do governo com os produtores rurais depois de iniciada a cobrança da taxa do Fundeinfra neste ano? Na sua avaliação, o setor já entendeu a necessidade de contribuir com os investimentos do Estado?

Esse fundo foi instituído com o objetivo principal de realizar investimentos na área de infraestrutura que vão favorecer diretamente os produtores rurais. O relacionamento foi totalmente pacificado mediante discussões com as entidades representativas de classe. Esses recursos são geridos por um conselho integrado por representantes dos produtores rurais. Esse conselho quem dá as diretrizes para onde esses recursos serão investidos. É importante dizer que esses recursos não entram no caixa do governo, mas na gestão direta do fundo, para a realização de investimentos em infraestrutura. Que vão ter, como resultado principal, a melhoria nas condições de escoamento da produção e também a melhoria nas condições para que os produtores possam trazer os insumos para suas propriedades. Grande parte desses recursos já está em execução em áreas estratégicas do agronegócio. Isso, com certeza, vai impulsionar ainda mais o setor tão importante para o desenvolvimento de Goiás.

O atual projeto de reforma tributária que tramita no Congresso causará quais impactos para a agropecuária goiana e brasileira?

Vários estudos foram realizados, um deles pelo Instituto Mauro Borges, o órgão oficial de estatística do governo de Goiás, que mostram que as condições apresentadas têm o potencial de impactar negativamente a maioria dos municípios de Goiás. Eles vão ter uma redução significativa no aporte de recursos do governo federal. Temos visto com muita preocupação as maneiras como essa reforma vai impactar o segmento. É importante buscar – e o nosso governador tem capitaneado essa discussão – transparência a todas as diretrizes que têm sido discutidas no Senado. Há uma sinalização para alterações que serão realizadas mediante esse esforço de pessoas, como o nosso governador, para que essa reforma possa trazer impactos o menos drásticos possível. Principalmente para os municípios que têm a vocação produtiva dominante voltada ao agronegócio.

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