Novas gerações têm assumido o comando de grupos empresariais em Goiás, uma missão que exige muita capacitação e dedicação.
Abrir uma empresa não é tarefa fácil. Consolidá-la ainda é mais difícil. Quando falamos de empresas familiares, a sucessão nem sempre o processo é natural. O embate entre gerações pode falar mais alto e ter alguém realmente capacitado faz total diferença para manter o legado.
Vitor Zuppani, de 23 anos, é atualmente diretor administrativo e financeiro da Zuppani, indústria de produtos de limpeza que fica em Aparecida de Goiânia. Vem da terceira geração no processo de sucessão. Mas, para chegar ao atual cargo, precisou conhecer bem todos os processos da empresa.
O jovem começou a trabalhar durante a pandemia. Ele afirma que não foi obrigado pela família para estar no ambiente e, sim, pelo interesse para que o negócio acontecesse de maneira orgânica.
“Comecei cobrindo férias de outros funcionários, assumindo funções de pessoas que seriam difíceis de serem substituídas. Com isso, rodei por muitas áreas da Zuppani. Desse modo, consegui entender o negócio como um todo, o que me proporcionou ter um crescimento na empresa”, diz.
Ao longo do caminho, Vitor passou pela área comercial, como analista de vendas e também como diretor comercial. Diz entender os privilégios que teve e destaca que isso foi um impulso para que buscasse aprender e para entregar mais do que fosse pedido. Para ele, uma das maiores dificuldades de estar em uma empresa familiar era separar a razão da emoção.
“Foi uma coisa que tive que aprender a fazer, porque existe muito sentimento envolvido. Então, falo por mim, falo pela minha família, que nós temos um verdadeiro amor por essa empresa. Nós temos muito afeto. Então, isso acaba, querendo ou não, impactando em diversas decisões que a gente toma no dia a dia, porque nem sempre é tudo através da razão”, afirma.
Lucas Bernardino, de 26 anos, está na segunda geração do Grupo Pirineus. Voltado para a extração de calcário com fins agrícolas e também conta com unidades que produzem carbonato de cálcio precipitado.
Hoje, é diretor de produção, mas para chegar a esse cargo passou pelas áreas de compras, comercial e controladoria do grupo. Para isso, o preparo dele foi em uma outra empresa, mais precisamente numa trading de energia elétrica em São Paulo.
Para ele, a experiência foi importante porque conheceu um mercado de trabalho mais acirrado e soube o que, como ele mesmo diz, o que era trabalhar. “Conheci muitas pessoas, fiz bastante networking, conheci processos, tive experiência com bons chefes e com outros nem tanto, pois erravam muito. Assim, pude saber o que não fazer quando estivesse em um cargo de liderança”, pontua.
Lucas toma como base a administração do pai Nilo Bernardino com os outros dois sócios, Domingos Sávio e Raimundo Viana, para estabelecer a empresa. Por isso, para o futuro, ele quer manter o legado com que teve contato. Assim como Vitor, ele destaca que há alguns embates referentes às gerações diferentes, mas que contorna a situação com auxílio da área de exatas.
“O bom e velho cálculo não falha. A gente traz para a nossa realidade para mostrar com clareza. Tudo isso para que o diálogo seja uma ferramenta de encaixe entre essas gerações e que não se torne algo impeditivo”, explica.
Lucas, que também é presidente da Fieg Jovem, destaca que, em seu mandato, busca capacitar e formar jovens líderes para que mais gerações assumam os desafios do empreendedorismo. “A gente quer que mais jovens se tornem líderes com responsabilidade e que consigam suceder nas empresas e terem sucesso”, pontua.
Vitor e Lucas vão na contramão de uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ela mostra que apenas sete, em cada 100 empresas, chegam à terceira geração. Outro levantamento da consultoria PwC aponta que 75% das empresas familiares no Brasil fecham após serem assumidas por herdeiros.
O presidente do Conselho de Administração e de Família do Grupo Soares, Marcelo Camorim, explica que é importante fazer o preparo dos herdeiros para identificar os pontos de liderança e adequá-los ao novo modelo de mercado. Para ele, colocar uma pessoa apenas na liderança pelo simples fato de ser herdeiro é ultrapassado.
Ele cita o exemplo do Grupo Soares, no qual 14 jovens, filhos da segunda geração do grupo, estão sendo capacitados. “Nós entendemos que o mercado mudou e, se não houvesse mudança, iríamos ficar para trás. Esses jovens não trabalham na empresa, mas nós estamos preparando-os para a vida, capacitando-os com as boas práticas do mercado. Nós acreditamos que, primeiro, o herdeiro tem que se preparar no mercado. Depois, se ele tiver condições, ele assume cargos. Caso contrário, os executivos tomam de conta”, destaca.