quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
André Rocha: “Estou otimista para 2025, mas temos grandes desafios”

André Rocha: “Estou otimista para 2025, mas temos grandes desafios”

Em entrevista exclusiva, o novo presidente da Fieg, André Rocha, diz que o próximo ano será promissor, mas também desafiador. Confira.

21 de dezembro de 2024

André Rocha: “Temos a expectativa de que o governo possa cortar suas despesas e avançar no ajuste fiscal”

Recém-empossado presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), André Rocha, se mostra otimista para 2025. Em entrevista exclusiva ao EMPREENDER EM GOIÁS, diz que o próximo ano será promissor para a indústria, mas também desafiador.

Reconhece que há problemas sérios a serem resolvidos, como a alta da inflação e do dólar, elevação dos juros reais e os efeitos da reforma tributária. Defende, inclusive, reavaliação dos incentivos fiscais oferecidos pelo governo de Goiás.

“Mas, Goiás tem experimentado um avanço diferenciado. As forças convergem para o agronegócio e para as agroindústrias”, frisa. Confira:

A indústria goiana apresentou crescimento de 5,7% nos últimos 12 meses, até outubro. Como avalia o resultado do setor para este ano e qual sua perspectiva ara 2025?

A indústria goiana em 2024 se portou bem. Houve crescimento acima da média, com destaque dos setores ligados à construção civil e à ampliação da produção, como por exemplo máquinas e equipamentos. O setor de alimentos, que representa mais de 40% da produção industrial goiana, também se comportou bem e tem a seu favor as potencialidades de nosso estado. E o setor de bioenergia se destacou, sobretudo na produção de açúcar, mas também na produção de etanol, principalmente a partir do milho.

Para 2025, apesar de possíveis problemas de inflação, elevação do custo de produção, manutenção ou elevação da taxa Selic, que atinge diretamente o custo do crédito, as expectativas são boas. Esperamos manter a trajetória de crescimento da produção goiana, em especial das exportações. O ideal era uma expansão consolidada, mas temos problemas pela frente que devemos desvencilhar e sermos resilientes para dirimir as adversidades.

Quais são os maiores gargalos para a indústria goiana? E como resolvê-los?

Os principais gargalos envolvem acesso ao crédito, questões tributárias, infraestrutura e inovação e sustentabilidade. Resolvê-los de forma isolada não é fácil. É imperativo o diálogo com entes públicos para priorização de ações e estabelecimento de uma política industrial continuada e eficaz, com foco na melhoria da competitividade de nossas indústrias.

No âmbito do acesso ao crédito, a dificuldade na contratação de financiamentos, especialmente para pequenas e médias empresas, é outra problemática. Para solucioná-la, é essencial facilitar o acesso a linhas de crédito com juros competitivos.

Nesse sentido, estamos trabalhando junto ao Sebrae e à Garanti Goiás para melhorar a garantia e facilitar o acesso ao crédito. Mas o grande gargalo tem sido a alta taxa de juros, mesmo tendo linhas de financiamento como FCO, BNDES, Finep e Embrapii. Há uma dificuldade pelas garantias e também às incertezas da economia e insegurança jurídica, visto que, em 2024, tivemos várias mudanças, como a taxação dos incentivos fiscais. Também é um dificultador a alta do dólar, que acaba inibindo a importação de máquinas e equipamentos, e a alta taxa de juros.

O Núcleo de Acesso ao Crédito (NAC) da Fieg vem atuando nessa problemática, promovendo palestras sobre estruturação financeira voltadas a empresários. Além disso, é importante criar políticas de crédito específicas para inovação e modernização industrial. A implementação do Nova Indústria Brasil, programa do Governo Federal, ainda precisa se confirmar como realidade para a realização de investimentos do setor industrial, de olho na melhoria da competitividade interna e internacional.

“Os principais gargalos envolvem acesso ao crédito, questões tributárias, infraestrutura e inovação e sustentabilidade”

E os incentivos fiscais?

Temos também o desafio da alta carga tributária e da falta de incentivos atrativos, o que compromete a competitividade local e, especialmente, a atração de novos empreendimentos. Para enfrentar esses problemas, é necessário reavaliar os incentivos fiscais oferecidos pelo governo de Goiás, aprimorando-os com ênfase ao que outros Estados vêm fazendo. Isto enquanto ainda for possível.

O setor industrial está atento e tem buscado equalizar os incentivos fiscais, sobretudo considerando Estados vizinhos que possuem uma política agressiva para atração de investimentos. À medida que o governo estadual entende essa dinâmica é possível retomar esses investimentos. Um exemplo é o setor de esmagamento de grãos e o de bioenergia, com a ampliação de plantas de etanol e açúcar e da produção de biometano.

Também são fundamentais a redução da burocracia tributária e o alinhamento de políticas tributárias mais favoráveis à competitividade, sobretudo com diálogo com o setor privado. Temos buscado junto ao governo estadual agilizar o fluxo dos processos, reduzindo a burocracia.

Quais ações têm sido tomadas em relação ao meio ambiente?

Temos conversado muito com a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, mas precisamos avançar mais na obtenção de licenças, nas outorgas de água e construção de barragens. Isso ainda tem sido um empecilho para os produtores rurais e para a agroindústria goiana. Por outro lado, estamos vendo, por exemplo, o Estado de Minas Gerais muito ágil nessa prática. Então trata-se de um ponto que ainda requer avanços em 2025.

Com relação à inovação e sustentabilidade, a baixa incorporação de tecnologias e práticas sustentáveis é outra pedra no caminho. Para superar esse desafio, é preciso estimular a adoção de tecnologias 4.0 na indústria. Programas como o BNDES Finame, por exemplo, que financiam a aquisição de máquinas e equipamentos com tecnologia 4.0, podem ser aliados importantes, como outras linhas ofertadas pela Finep e Embrapii, exclusivamente voltadas à inovação.

Além disso, práticas ambientais devem ser incentivadas por meio de subsídios e certificações. Num exemplo, O BNDES oferece o programa Fundo Clima Automático, que apoia a implantação de empreendimentos e o desenvolvimento tecnológico voltados à redução de emissões de gases do efeito estufa e à adaptação às mudanças climáticas.

Esse fundo também está alinhado com áreas como logística de transporte, mobilidade verde, transição energética, florestas nativas, recursos hídricos e inovação verde. A Fieg, por intermédio do NAC-CNI, tem proximidade com o BNDES e pode ajudar o empresário interessado. Essas ações integradas podem contribuir significativamente para a superação dos gargalos e o fortalecimento da indústria goiana.

“O governo precisa fazer o dever de casa para conter a desvalorização da moeda”.

Os juros no Brasil estão subindo, sem perspectiva de recuo. A cotação do dólar também bate recorde. Como esse cenário deve afetar o setor produtivo goiano e as indústrias, em particular, em 2025?

Temos a expectativa de que o governo possa cortar suas despesas e avançar no ajuste fiscal. Não só para segurar o aumento da Selic, cuja previsão é de 14,25% para o próximo ano, mas para equalizar o câmbio. O governo precisa fazer o dever de casa para conter a desvalorização da moeda.

A recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa Selic para 12,25% ao ano, com indicações de novos aumentos em 2025, surge como um alerta para a não realização de novos investimentos.

A previsão de aumento dos juros básicos da economia, sob a justificativa de conter a inflação, encarece o crédito e afeta diretamente as empresas que dependem de financiamentos para capital de giro e investimentos. Isso resulta em menor capacidade de expansão e inovação.

A desvalorização do real frente ao dólar, com a moeda americana ultrapassando a marca dos R$ 6,00, batendo recordes atrás de recordes, impacta produção, especialmente para indústrias que dependem de insumos importados. Setores como o de eletroeletrônicos e químicos, especialmente, podem enfrentar aumento nos custos, pressionando as margens de lucro e potencialmente levando ao repasse aos consumidores.

Por outro lado, a valorização do dólar pode beneficiar os exportadores, tornando os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional. No entanto, a volatilidade cambial e a incerteza econômica podem dificultar o planejamento e a execução de estratégias de exportação.

Nesse cenário, teremos avanços e contingenciamento entre diferentes segmentos. A inteligência empresarial será provocada o tempo todo para a realização do melhor negócio e do planejamento adequado conforme a atividade. Esperamos por um avanço no geral, mas alguns setores devem se ressentir do cenário econômico.

Como a regulamentação da reforma tributária, em aprovação no Congresso, pode afetar o setor industrial goiano e brasileiro? Acredita que vai gerar mais benefícios que prejuízos ao setor?

A recente aprovação e a expectativa de sanção por parte do governo federal trazem ansiedade ao setor produtivo local. O principal ponto da reforma tributária não é somente o fim dos incentivos fiscais. Mas sobretudo a cobrança do imposto no consumo. Como Goiás possui baixa população e um baixo consumo, o Estado deve perder em arrecadação.

Esperamos que venham gestores no governo federal que possam criar outros mecanismos voltados ao desenvolvimento regional. E, no caso de Goiás, precisamos ter mecanismos para melhorar nossa logística, principalmente para escoamento da produção, utilizando dutos, hidrovias, ferrovias para minorar essa diferença das distâncias e baratear o frete, além de buscar alternativas para ter uma tarifa de energia mais competitiva

Desde o início, nosso Estado se posicionou contrário à proposta e apresentou suas argumentações e emendas. Porém, não tivemos êxito e a reforma foi aprovada. Nesse cenário, são muitos os desafios e a implementação adequada da reforma ainda traz dúvida para Estados em desenvolvimento. Principalmente sobre o potencial de gerar um ambiente mais competitivo e eficiente para a indústria a médio e longo prazo.

Precisamos acompanhar e agir para evitar distorções e perdas grandes aos Estados. Além disso, é preciso divulgar como se dará a implementação para os industriais goianos e idealizar novas formas de beneficiar o crescimento econômico e a produtividade regional, diante do cenário sem os incentivos fiscais.

Goiânia tem o perfil de atrair negócios e com um bom direcionamento poderá receber indústrias

O prefeito eleito Sandro Mabel prometeu criar pequenos distritos empresariais em Goiânia. Acredita ser viável? Como você sugere a implantação destes distritos?

A criação de distritos empresariais se apresenta viável e tende a gerar negócios e ampliar a criação de empregos. Goiânia tem o perfil de atrair negócios e com um bom direcionamento poderá receber indústrias, devendo ser estabelecidas as atividades priorizadas. O prefeito conhece a atividade empresarial e como funciona o setor público e tem como marca o diálogo. Essas são as diferenças que nos faz acreditar que é factível o avanço de indústrias em Goiânia.

Goiânia já é uma cidade que tem grandes indústrias, com setores que se destacam como a construção civil, confecções e alimentos. O prefeito Sandro Mabel, que é um grande conhecedor do setor industrial, sabe da importância do segmento na geração de empregos. Acreditamos que a implantação de distritos industriais, sobretudo na região Noroeste, é atrativa, considerando a densidade populacional e infraestrutura logística.

Além disso, acreditamos que o prefeito vai não só buscar a instalação de novos distritos industriais, mas também concluir obras de infraestrutura importantes, como o anel viário de Goiânia, obra que ele foi um grande incentivador enquanto parlamentar.

A Fieg tem investido muito em educação. Essa também será a maior prioridade para os próximos dois anos? Quais serão as suas prioridades no comando da entidade?

Com certeza. Não só nos próximos dois anos, mas são ações duradouras. A gestão do presidente Sandro Mabel conseguiu fazer um ajuste fiscal que proporciona maiores investimentos. Nós vamos dar continuidade nessas ações, seja com a construção de escolas, como em Goianésia e Senador Canedo e a unidade Sesi Jardins, quanto reformando, ampliando e equipando vários laboratórios e escolas no interior.

Vamos investir também, cada vez mais, na qualificação e valorização de nossos professores e monitores e identificar e investir em alunos que se destacam academicamente, de olho na formação de profissionais capacitados e preparados para o futuro da indústria em Goiás. Queremos melhorar ainda mais as notas de nossos alunos, aprovando cada vez mais nos vestibulares e melhorando os índices de contratação.

Queremos ainda estar mais ligados às demandas do mercado de trabalho, customizando cursos para atender as necessidades de cada região e expandir a parceria com as prefeituras, ampliando nossa atuação na gestão de escolas municipais, tornando a metodologia do Sesi e Senai acessível a um maior número de jovens.

Esperamos fazer muitas parcerias com prefeituras tanto SESI/SENAI quanto IEL. Esperamos avançar na questão de políticas públicas com o governo estadual para melhorar a competitividade das nossas indústrias. Também vamos fazer parcerias com os governos dos municípios de Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis, entre outros.

Quais medidas o senhor pretende tomar para que os recursos do crédito disponível cheguem às pequenas e médias indústrias?

Em um primeiro momento, é prioridade a aproximação com as entidades locais de crédito convencional, em especial com as cooperativas e fundos de avais. O objetivo é conciliar as necessidades de recursos das empresas industriais com a realidade do setor financeiro.

A reestruturação do NAC [Núcleo de Acesso ao Crédito] da Fieg também está no nosso radar, buscando beneficiar principalmente as pequenas e médias indústrias na tomada de decisão quanto à finalidade do crédito e à contratação em si. Esse apoio funciona em rede capitaneada pela CNI e tem proximidade com o BNDES, Finep e Embrapii, o que nos garante ampla vantagem quanto ao conhecimento das linhas, sua divulgação e contratação de forma mais célere.

Sem falar que esses agentes são instrumentos da Nova Política Industrial do atual governo e que há recursos. O principal entrave é a burocracia e entendemos ser necessário ação proativa da Fieg para agilizar esse processo.

Além disso, vamos manter e intensificar nossa parceria com o Sebrae. Nos últimos três anos, foram mais de R$ 5 milhões aplicados em programas para aceleração da indústria, internacionalização de empresas, capacitações e ações estratégicas ao fortalecimento da pequena indústria. No total, a parceria Fieg e Sebrae viabilizou cerca de quatro mil atendimentos, beneficiando diretamente mais de 1,3 mil empresas.

“Acredito que 2025 será bastante promissor para a indústria”

Quais são as ações a serem implementadas pela Fieg com relação à sustentabilidade?

Além de manter o trabalho que já desenvolvemos na área, queremos realizar, em 2025, uma missão à COP-30, com participação de indústrias instaladas em Goiás que promovem ações e projetos destinados a neutralizar as emissões de gases do efeito estufa. O objetivo é que a Fieg participe da conferência, que ocorrerá em Belém, no Pará, mostrando ao Brasil e ao mundo as boas práticas adotadas pelo setor em nosso Estado.

Nos últimos anos, o Sistema Fieg vem implementando ações de sustentabilidade alinhadas com as metas estabelecidas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e se tornou signatária do Pacto Global. Promovemos seminários e discussões alinhadas aos grandes temas, destacando-se discussões sobre transição energética.

Nossas unidades realizam programas de coleta seletiva, promovem campanhas internas com os colaboradores e alunos das escolas do Sesi e Senai para conscientização sobre o uso responsável da água e realizam captação e reaproveitamento de água da chuva, além de receberem investimentos em energia fotovoltaica. Paralelamente, estamos substituindo nossa frota de veículos, priorizando o combustível renovável.

Também temos incentivado nossas empresas a serem cada vez mais eficientes no uso da água e da energia, a utilizarem materiais mais sustentáveis e produzir cada vez menos lixo. Todas essas ações voltadas ao fortalecimento de uma cultura que preza pelo fim do desperdício.

Recentemente, criamos o comitê de sustentabilidade para estruturar, coordenar e monitorar ações voltadas à sustentabilidade no Sistema Indústria, considerando as normativas ESG (meio ambiente, responsabilidade social e governança). O trabalho se soma ao já articulado pelo Conselho de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Cmas) da Fieg, que amplia as discussões para o público externo, inclusive com a entrega do Prêmio de Sustentabilidade da Indústria Goiana.

O senhor está otimista com 2025? Por quê?

Estou otimista. Acredito que 2025 será bastante promissor para a indústria. É claro que temos desafios e problemas sérios a serem resolvidos, como a resistência da inflação, disparada do dólar, elevação dos juros reais na ponta e dúvidas quanto à reforma tributária. Mas, Goiás tem experimentado um avanço diferenciado que vem se consolidando, mesmo após o pico que foi registrado na época da pandemia de Covid-19.

As forças convergem para o agronegócio e as agroindústrias e, nesse contexto, Goiás poderá se beneficiar muito. Citamos como exemplo o acordo firmado entre o Mercosul e a União Europeia. Precisamos intensificar a agregação de valor em nossa produção, o que ainda é um desafio, mesmo com os grandes avanços que tivemos na pauta nos últimos anos. Mas a Fieg tem parcerias competentes para incentivar esse avanço.

Vamos dar continuidade ao programa que iniciamos em 2024 de visitas técnicas às indústrias instaladas em Goiás, trabalhando mais próximo dos sindicatos patronais do setor e sempre em parceria com o Fórum das Entidades Empresariais de Goiás e a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Vamos dar continuidade, por meio do Sesi, Senai e IEL, aos investimentos nos programas de capacitação dos trabalhadores, para melhoria da produtividade, e de nossos executivos. Também vamos apoiar as empresas com programas de eficiência e incentivar investimentos em pesquisa e desenvolvimento e a utilização da inteligência artificial.

Enfim, vamos seguir trabalhando pelo desenvolvimento econômico e social, com a atividade industrial continuando a pagar os melhores salários nos locais onde se instala.

Saiba mais: Indústria goiana cresce acima da média nacional

Wanderley de Faria é jornalista especializado em Economia e Negócios, com MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela FIA/FEA/USP - BM&FBovespa

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One thought on “André Rocha: “Estou otimista para 2025, mas temos grandes desafios””

  1. @julio.paschoal. 71 disse:

    André Rocha

    Parabéns pela entrevista, abordou pontos sensíveis mas com o conhecimento de causa, problemas existem mas podem ser superados. Acredito que fará um grande trabalho a frente da FIEG, em que pese por um cenário macroeconômico adverso. Vamos em frente.