Neste ano, a política de juros altos somada a outros cenários fez com que US$ 148 bilhões evaporassem do mercado de capitais no Brasil.
O cenário em 2025 para as companhias listadas na B3 não é dos mais otimistas. Especialmente com a decisão do Banco Central de elevar a taxa Selic para 12,25% ao ano. Podendo continuar subindo e chegar a 14,25% até março próximo. Com isso, as companhias devem ter ainda mais dificuldades atrair investimentos, expandir atuação e quitar seus débitos.
Com os juros tão alto, as empresas não conseguirão rentabilizar o capital em magnitude suficiente para ‘cobrir’ o custo do dinheiro nos níveis atuais (e do futuro próximo). O que reduz os investimentos, a atração de capital produtivo, entre outros efeitos colaterais. Neste ano, a política de juros somada a outros cenários fez com que US$ 148 bilhões evaporassem do mercado de capitais.
Quem explica a equação é Flávio Málaga, sócio fundador da MÁLAGA Assessoria em Finanças Corporativas e Contabilidade Societária. O especialista, que também é professor no Insper, PhD em administração, estudou os números das 261 empresas listadas na B3 entre 1º de outubro 2023 a 30 de setembro de 2024. Concluiu que 75% delas (ou 196) obtiveram rentabilidade inferior a 13,5% ao ano em 2024.
“Simplesmente elas não possuem modelos de negócios fortes o suficiente para entregar uma rentabilidade acima do custo do dinheiro que, por sua vez, é função da percepção de risco do país e da expectativa de inflação”, explica o professor.
Outra conclusão de Málaga é que a rentabilidade média das 261 empresas foi de 7,76% ao ano, com 45 empresas gerando rentabilidade negativa. A mediana foi de 9,3%. De acordo com o especialista, para considerar uma rentabilidade ótima, a companhia precisa ter como índice 20% ao ano.
O aumento do custo do dinheiro também se reflete no valor das empresas: o valor somado destas 261 empresas caiu desde o início do ano de US$ 554 bilhões para US$ 406 bilhões, queda de 27% em nove meses.
Os US$ 148 bilhões em valor evaporaram do mercado de capitais em 2024. “Esta perda de valor possui alta difusão: foi gerada por 228 empresas (87% das 261). Ou seja, é um fenômeno sistêmico, decorrente da conjuntura”, explica.
No mercado financeiro, uma Selic mais alta deixa a moeda mais cara, torna as condições para comprar a prazo ou pedir financiamentos e empréstimos mais difíceis. Além de um custo de vida mais elevado e o apetite pela bolsa de valores diminui. Também impacta a taxa de câmbio, além de reduzir a demanda dos investidores por ativos de risco.
“Neste caso, na renda variável, o maior custo de dívida das empresas pode influenciar a forma como investidores calculam o que seria o valor justo das ações das companhias listadas, diminuindo o apetite pela bolsa de valores”, afirma Flávio Málaga. “Ressalta-se que a taxa de juros não é causa, mas sim consequência de uma economia desestruturada. Cabe ao governo compreender as causas e atuar sobre elas”, completa.