quinta-feira, 2 de maio de 2024
Governo Lula: o que o mercado prevê para 2023?

Governo Lula: o que o mercado prevê para 2023?

O que mais preocupa o mercado são os sinais do governo Lula (PT) para 2023, especialmente na área fiscal. Confira.

7 de dezembro de 2022

Victor Inoue: “Não acreditamos que o BC reduza a Selic nas próximas reuniões”

O Copom do Banco Central realiza nesta semana a sua última semana do ano para definir a próxima taxa básica dos juros do Brasil. A expectativa em grande parte do mercado é da Taxa Selic ser mantida em 13,75% ao ano, um dos patamares mais altos da história recente no País. Contudo, o que mais preocupa o mercado são os sinais do governo Lula (PT) para 2023, especialmente na área fiscal. Eles indicam para manutenção dos juros elevados por mais tempo no Brasil, o que afeta consumo, produção e investimentos.

Confira a entrevista com Victor Inoue, da WIT – Wealth, Investments & Trust, empresa especialista na gestão de patrimônio para pessoas, grupos familiares e empresas.

Quais as expectativas para a última reunião do Copom deste ano?
O mercado precifica a manutenção da Selic em 13,75%. Mas o Banco Central já disse que a PEC da Transição está no radar do Comitê. Campos Neto, presidente do BC, explicou que seria possível novos aumentos na taxa de juros, caso a convergência da inflação para a meta não ocorra da forma planejada.

O risco fiscal está sob controle?
O risco fiscal não está sob controle. A PEC apresentada pelo governo eleito levaria a um déficit de até 2,6% do PIB em 2023 e permaneceria em terreno deficitário pelo menos até 2026. Caso a PEC não seja desidratada, podemos entrar em um cenário de dívida insustentável levando a uma situação de dominância fiscal.

Considerando a atual situação da inflação que voltou a registrar aumento no último mês, após a divulgação do IPCA-15, como enxerga a possibilidade de redução da Selic para as próximas reuniões?
Não acreditamos que o BC reduza a Selic nas próximas reuniões. No cenário pré-eleição esperávamos o início de cortes no segundo semestre de 2023. Mas devido aos ruídos recentes sobre política fiscal o cenário se tornou muito incerto. Também não esperamos nova deflação, o efeito dos cortes de impostos já foi completamente absorvido.

Cenário para os juros

O último boletim Focus, do BC mostra uma revisão para cima em inflação e câmbio para 2023. Por quê esta revisão?
Devido ao ruído referente à responsabilidade fiscal do governo eleito, houve uma deterioração das expectativas.

Quando você acredita que deve se iniciar o ciclo de queda de juros no Brasil?
Antes das eleições, esperávamos que o ciclo de queda começasse no início do segundo semestre de 2023. Com a piora do risco fiscal, isso se tornou ainda mais incerto.

Caso a China, principal parceiro comercial do Brasil, comece a flexibilizar sua política de Covid zero, quais os impactos para o nosso país em 2023?
O impacto de uma China com políticas de Covid menos restritivas é muito positivo. Já observamos uma mudança de postura das lideranças chinesas. Portanto, o foco voltou a ser crescimento econômico.

Um levantamento feito pela TradeMap mostra que a Bolsa brasileira recebeu R$ 2,4 bilhões em capital estrangeiro desde a eleição de Lula. Desses, R$ 1,9 bi entrou somente no dia 31 de outubro, o primeiro pregão após o segundo turno. O saldo é consideravelmente maior do que o registrado em setembro, quando o fluxo estrangeiro foi de apenas R$ 585,3 milhões. Você acredita que o investimento estrangeiro vai continuar em 2023?
Acredito que sim. A postura do governo Lula em relação a assuntos como meio ambiente e desigualdade facilita a atração de capital internacional. Mas para que isso ocorra precisamos de um fiscal minimamente estável.

Investimentos

Quais os fundamentos que o investidor analisa no Brasil que são favoráveis ao nosso país? E quais são desfavoráveis?
Começando pelos pontos positivos. Quando olhamos para Bolsa, o Ibovespa tem uma composição muito atrativa devido sua exposição a commodities e ao fator valor. Na renda fixa nosso juro real elevado também é um ponto forte, a relação risco/retorno está bem interessante, principalmente em títulos atrelados à inflação. Entretanto, o que mais pesa para o investidor hoje é a incerteza fiscal, inflação americana deixou os holofotes.

Na sua visão, quais ativos da renda fixa e renda variável devem ser mais afetados no que resta de 2022 por conta desta volatilidade?
Em renda variável, os ativos mais afetados devem ser as estatais. Ainda é muito incerto como o governo irá lidar com empresas como Petrobrás e Banco do Brasil. Na renda fixa, os títulos pré-fixados sofrem a maior volatilidade. Contudo, o mercado de juros sofreu muito com a expectativa de um governo expansionista.

Como muda a alocação de ativos nas carteiras de investimento? Como o investidor deveria posicionar a sua carteira neste período de transição, nos últimos meses de 2022?
Em renda variável, a preferência é por empresas de qualidade, principalmente com baixa alavancagem e poder de repasse de preços. Na renda fixa, o pré-fixado se tornou mais arriscado. Preferência por ativos pós-fixados e inflação.

Renda fixa

Quais são os ativos que devem ser evitados na renda fixa neste período de transição? E em quais ativos da renda fixa há oportunidades? Justifique.
Os pré-fixados se tornaram mais arriscados. A probabilidade de termos uma inflação elevada aumentou com as declarações recentes do governo eleito. Nos investimentos em crédito privado, a qualidade se tornou ainda mais relevante, principalmente alavancagem. A maior assimetria se encontra nos ativos atrelados à inflação, estamos com juros reais em níveis históricos.

Quais são os ativos que devem ser evitados na renda variável neste período de transição? E em quais ativos da renda variável há oportunidades?
As estatais e empresas com endividamento alto devem sofrer maior volatilidade. É um momento em que é arriscado comprar um ativo apenas porque caiu muito e parece ter ficado barato. Exportadoras por terem receita em dólar se tornam uma boa opção defensiva na carteira, apesar da tendência de queda do dólar frente a outras moedas.

Nas ações da bolsa, existem setores que devem ser evitados neste período de transição? Existem setores que representam oportunidades pontuais para o investidor?
Setores sensíveis a aumento de juros e com valuation esticado tendem a sofrer mais nesse período de incerteza enquanto o setor de commodities e elétricas são mais resilientes.

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