CDL Goiânia e Fecomércio/GO preveem a redução da inadimplência de consumidores, mas frisam que programa não resolvera o problema de vez.
O programa Desenrola, lançado pelo governo federal por meio de Medida Provisória na semana passada, tem a aprovação de representantes de entidades do comércio varejista de Goiás. Eles preveem a possibilidade de renegociação de dívidas de consumidores. Em Goiás, a inadimplência aumentou 5,85% em maio, em comparação com o mesmo período do ano passado. Ainda assim, a taxa é menor, no mês de maio, do que a da Região Centro-Oeste (6,19%) e a nacional (9,42%).
Os dados são da Câmara de Dirigentes Lojistas de Goiânia. “A inadimplência está muito alta e os juros altos prejudicam a renegociação”, atesta a gerente administrativa da CDL Goiânia, Hélia Gonçalves. Conforme a CDL, a maior quantidade das dívidas em atraso é com instituições bancárias, seguindo a tendência dos últimos meses. O valor médio em atraso é de R$ 2.164. Já os que tiveram o nome negativado devem R$ 4.078, somando todas as dívidas.
Para Hélia, o Desenrola será uma diretriz importante, “um bom ponto de partida”. “Não resolverá de vez o problema da inadimplência, mas vai atenuar. Seria bom se viesse acompanhado de outras medidas”, afirma.
Ademais, a gerente da CDL Goiânia pontua que não se pode deixar de enxergar que há outros problemas, como o achamento da renda e o empobrecimento da população. “Trata-se de um problema conjuntural que vai muito além do programa Desenrola”, avalia. Um deles, aponta ela, é a alta taxa de juros, que desestimula os bancos a liberar dinheiro. “O governo precisará de uma comunicação bastante efetiva acerca do programa para a adesão das pessoas e empresas, o caminho é longo”.
A adesão de empresas credoras e dos consumidores endividados é um desafio, segundo o presidente da Fecomércio Goiás, Marcelo Baiocchi. “Esse projeto só vai vingar se houver adesão dos credores”, diz. Ele lembra que os maiores são os bancos. Cartões de crédito representam hoje mais de 80% da dívida; varejo, em torno de 17%; as outras dívidas são bem menores em relação ao montante. “Os grandes credores que terão de aderir ao projeto são as operadoras de cartão de crédito e depois as grandes lojas de varejo”, explica.
Quatro dos principais bancos do Brasil confirmaram participação no programa Desenrola Brasil: Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander. Aguardam a regularização da medida nos próximos dias a Caixa Econômica Federal, Mercantil, Inter e Banrisul.
Para Baiocchi, qualquer incentivo para a regularização do crédito é bom para o comércio. “A partir do momento em que o devedor passa a estar positivo, volta ao mercado de consumo e passamos a ter mais possibilidades de venda”, avalia, lembrando que é necessário que haja empenho por parte do governo. “Esses projetos, para darem certo, precisam de um operacional que rode. Estamos esperando a regulamentação do Ministério da Fazenda, mas desejamos que dê certo e que seja um bom programa. Tenho certeza de que o brasileiro é um bom pagador e tem vontade de limpar seu nome”, ressalta.
O programa Desenrola Brasil quer possibilitar a renegociação de dívidas, devendo beneficiar até 70 milhões de pessoas – com cerca de 40 milhões na faixa I e 30 milhões na faixa II. O objetivo da medida é combater a inadimplência no país e ajudar os brasileiros endividados a pagarem suas dívidas. O programa é para pessoas físicas e contempla duas faixas de benefícios.
A faixa I é para aqueles que recebem até dois salários-mínimos ou que estejam inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico). Para esse grupo, o Programa vai oferecer recursos como garantia para a renegociação de dívidas bancárias e não bancárias cujos valores de negativação somados não ultrapassem o valor de R$ 5 mil.
A Faixa II é destinada somente às pessoas com dívidas no banco, que poderá oferecer a seus clientes a possibilidade de renegociação de forma direta. Essas operações não terão a garantia do Fundo FGO. Nesse caso, o governo oferece às instituições financeiras, em troca de descontos nas dívidas, um incentivo regulatório para que aumentem a oferta de crédito.
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