domingo, 5 de maio de 2024
O BC elevou sua projeção para o crescimento da economia neste ano de 1,2% para 2% e admite que só não será maior por causa dos juros altos.
O Banco Central (BC) elevou a projeção para o crescimento da economia este ano. Aliás, quase dobrou a sua estimativa para o crescimento do do Produto Interno Bruto (PIB): de 1,2% para 2%. Segundo a instituição, em razão de “surpresas positivas em algumas atividades da indústria e do setor de serviços no primeiro trimestre. Além, principalmente, da melhora nos prognósticos para a agricultura”. A projeção consta do Relatório de Inflação, publicação trimestral do BC, divulgado nesta quinta-feira (29/6).
“A atividade econômica apresentou forte crescimento no primeiro trimestre (1,9%), superando amplamente as expectativas. O resultado repercutiu sobretudo o desempenho do setor agropecuário. Por sua vez, a evolução da demanda doméstica e da oferta reforça a avaliação de arrefecimento da atividade econômica”, explicou o BC no relatório.
Segundo o BC, uma possível desaceleração da concessão de crédito é um risco negativo para a atividade econômica. As concessões de crédito com recursos livres (a juros determinados pelos bancos) têm mostrado desaceleração desde o final do ano passado. Sobretudo no segmento de pessoas jurídicas. O banco afirma que já esperava menor dinamismo no mercado de crédito, “tendo em vista o grau de aperto da política monetária”. Contudo, busca justificar. “Todavia, ocorreram no início de 2023 eventos relevantes, no Brasil e no exterior, que potencialmente trazem deterioração adicional ao mercado de crédito”, frisou no relatório.
Curiosamente, a própria instituição afirma que o crescimento econômico poderia ser até maior não fosse a sua atual política restritiva. “Apesar dessa elevação, a projeção continua refletindo cenário prospectivo de desaceleração da atividade econômica em 2023, sob influência da diminuição do ritmo de crescimento global e dos impactos cumulativos da política monetária doméstica [alta da taxa básica de juros]”, frisou o BC.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC mantém a taxa Selic em 13,75% ao ano desde agosto do ano passado. É o maior nível desde janeiro de 2017, apesar da queda da inflação e das pressões de parte do governo para redução dos juros básicos.
Em 2022, a economia brasileira cresceu 2,9%, após alta de 5% em 2021 e recuo de 3,3% em 2020. O setor de serviços foi o que mais contribuiu para o crescimento do PIB no ano passado. Para este ano, a projeção para o setor de serviços teve alta de 1% para 1,6%, diante do bom desempenho em algumas atividades. Entre elas, está o de transporte, “possivelmente influenciada pelo escoamento da safra de soja”, e de atividades financeiras.
O BC cita ainda o comércio, que teve variação modesta mas acima da prevista, também possivelmente beneficiada pela alta na agropecuária. Na indústria, a projeção foi elevada de 0,3% para 0,7%. “Em sentido oposto, houve redução nas estimativas para a indústria de transformação e para a construção. São atividades mais sensíveis ao ciclo econômico e que recuaram mais do que o previsto no primeiro trimestre”, informou o BC.
A projeção de crescimento da agropecuária para este ano cresceu de 7% para 10%, após recuo de 1,7% em 2022. Repercutindo prognósticos favoráveis para a produção agrícola, notadamente a de soja, a da segunda safra de milho e a de cana-de-açúcar. Este otimismo também é compartilhado pelos pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Eles revisaram de 11,6% para 13,2% a estimativa de crescimento para o setor agropecuário em 2023.
A justificativa pela alta acima do esperado no primeiro trimestre do ano, comparando a previsão com o resultado divulgado pelo IBGE, é a revisão para cima da produção de bovinos e de culturas com peso expressivo no valor adicionado da lavoura, como a soja.
