domingo, 5 de maio de 2024
Juros altos: Fieg ameça processar diretores do BC

Juros altos: Fieg ameça processar diretores do BC

Pressão: entidade estuda processo na esfera federal contra os diretores do BC se os juros forem mantidos altos na próxima reunião do Copom.

12 de julho de 2023

Mabel: “Entendemos que passou da hora de o BC mudar sua política e essa mudança tem que ser imediata”

Sem cabimento. É assim que se posiciona a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) sobre o atual patamar dos juros no Brasil, mesmo com a forte redução da inflação no País. “A persistência do Banco Central (BC) na atual política monetária mostra-se contraproducente e contrária aos interesses maiores do País. A preservação dessa política, de resto condenada por todos os setores, não tem mais cabimento”, afirma o presidente da entidade, Sandro Mabel.

Aliás, depois da divulgação do IPCA, que registrou deflação em junho, cresceu ainda mais a pressão sobre os juros do BC. Principalmente sobre o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, para iniciar um ciclo de cortes da taxa básica de juros, a Selic, a partir de agosto.

“Os dados da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) comprovam o disparate representado pela escalada das despesas com juros. Passaram a consumir praticamente R$ 600 bilhões nos 12 meses encerrados em maio deste ano apenas na área federal. Um crescimento de 34,9% em relação aos 12 meses anteriores. Ou seja: um gasto adicional de R$ 155,38 bilhões”, frisa Mabel.

Ele frisa que as despesas do governo federal com juros em 12 meses já são 44,5 vezes maiores do que todo o investimento projetado para obras de infraestrutura neste ano, próximo de R$ 13,5 bilhões.

Processo

Sandro Mabel anuncia que a Fieg e sua equipe jurídica estudam a possibilidade de propor a abertura de processo na esfera federal contra cada um dos diretores do BC. A ação, ainda a ser formatada, buscará imputar à diretoria da instituição a responsabilidade pelo que a federação entende como dilapidação dos recursos orçamentários.

“Os juros, nos níveis atuais, estão matando empregos, matando investimentos e paralisando a economia. Entendemos que passou da hora de o BC mudar sua política e essa mudança tem que ser imediata”, enfatiza o presidente da entidade.

Para André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), há três fatores principais que fazem pressão sobre a autoridade monetária. Um deles é o índice de difusão, que mede o percentual de produtos e serviços que registraram aumento de preços. Esse índice tem apresentado queda. “Em junho caiu para 50%. Esse número dois ou três meses atrás estava em torno de 60%, então, isso mostra que menos produtos e serviços subiram de preço, isso é um bom indicativo”, destaca.

Núcleo da inflação

Outro fator, segundo Braz, é o chamado núcleo da inflação. “O núcleo tem a tarefa de medir a verdadeira tendência da inflação e, apesar de estar muito distante da meta, está mostrando desacelerações, isso também antecipa que a inflação está realmente em um processo de redução”, analisa. “Esse processo de desinflação que começa nos alimentos favorece a condição da própria política monetária [controle dos juros]. Eu diria que a gente tem os elementos para um primeiro corte na taxa básica de juros na reunião [do Copom] de agosto”, diz.

“A inflação está em uma trajetória decrescente desde fevereiro, e o acumulado em 12 meses está em 3,16%, bem no centro da meta de inflação. Como a taxa Selic é para se atingir esta meta, a cobrança pela redução deve ganhar força”, diz o professor Jorge Claudio Cavalcante, do Departamento de Análise Econômica da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

O Copom faz reuniões a cada 45 dias, em que decide a taxa básica de juros. A próxima reunião do Copom será nos dias 1º e 2 de agosto. Atualmente, a Selic está em 13,75%, sob a justificativa de que é preciso combater a inflação. O juro alto é uma forma de controlar a inflação, pois desestimula o consumo e deixa o crédito mais caro. Porém, é mais recessivo, afetando o crescimento da economia e a geração de empregos. Por isso, governo, empresários e centrais sindicais têm pressionado pela queda da Selic.

Wanderley de Faria é jornalista especializado em Economia e Negócios, com MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela FIA/FEA/USP - BM&FBovespa

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