sábado, 27 de abril de 2024
Marcelo Baiochi: “Vamos investir R$ 250 milhões em Goiás”

Marcelo Baiochi: “Vamos investir R$ 250 milhões em Goiás”

Em entrevista exclusiva, o presidente da Fecomércio-GO fala sobre investimentos, economia brasileira e perspectivas para Goiânia. Confira.

17 de março de 2024

Marcelo Baciochi: “Temos dois lemas. O primeiro é fazer mais com menos, melhor e mais rápido.”

A Federação do Comércio do Estado de Goiás (Fecomércio-GO) tem traçado um planejamento de investimentos no total de R$ 250 milhões somente para este ano no estado. Principalmente em escolas, hotéis e clubes do Sesc e do Senac em Goiás.

“Ao final da nossa gestão, pretendemos entregar todo o Sistema S do comércio reformado na gestão, no corpo de funcionários e nas suas estruturas físicas”, afirma o presidente da entidade, Marcelo Baiochi, em entrevista exclusiva ao EMPREENDER EM GOIÁS.

O empresário, contudo, não se mostra otimista em relação à economia brasileira para 2024. Diz que esse ceticismo tem feito empresas brasileiras e goianas a adiarem maiores investimentos.

Marcelo Baciochi defende a reocupação do Centro de Goiânia e que a próxima gestão municipal desenvolva um projeto de mobilidade urbana com tecnologia e inteligência. Confira a entrevista.

Segundo o IBGE, o comércio goiano tem demonstrado baixo crescimento nas vendas, com alta de apenas 0,7% no ano passado. Quais motivos?

O principal é a mudança da cultura dos consumidores. A pandemia acelerou muito o e-commerce, que vinha numa transição natural. E o pós-pandemia também tem dificultado o crescimento das vendas, porque algumas empresas não estavam preparadas para enfrentar aquele momento. Ficaram fechadas na pandemia, com despesas, pagando aluguel, às vezes, pagando funcionários. Agora, quando estamos num momento de recuperação, a volta do consumidor às compras não aconteceu no mesmo ritmo. Quando a economia não está boa, você gasta menos, faz menos compromisso e espera o cenário melhorar para ir às compras.

Diante disso, você vê que os empresários têm protelado investimentos?

O que a gente sente é que os empresários, de maneira geral, estão aguardando para fazer investimentos. Vários projetos foram segurados. Porque não dá para desassociar a política econômica da política governamental. E a falta delas traz insegurança.

Então, o senhor não está otimista com a economia brasileira?

Não estou. Um país que fecha com déficit fiscal de mais de R$ 230 bilhões por ano é preocupante. É igual economia doméstica, não tem segredo: onde gasta-se mais do que arrecada, vai faltar recurso.

Centro de Goiânia não precisa ser revitalizado. Ele precisa ser reocupado

A Fecomércio tem participado das discussões do Centraliza. Como está sendo esse diálogo?

A gente chegou à conclusão que o Centro de Goiânia não precisa ser revitalizado. Ele precisa ser reocupado. A revitalização vai ser uma consequência. A maioria dos projetos do Centraliza foi discutida pelo Fórum Empresarial. É um conjunto de leis que o governo municipal vai colocar muito pouco recurso. Vai colocar o recurso da despesa ordinária mesmo. Porque pintar meio fio, melhorar a iluminação, melhorar o asfalto, é o que a Prefeitura já faz.

Qual é o diferencial do Centraliza?

O grande diferencial do projeto são as leis que vão atrair investimentos. Por exemplo, isenta de imposto a transmissão de imóvel. Ou seja, o empreendedor pode ir lá e comprar imóvel, fazer um shopping, um prédio ou uma faculdade. Ele leva isenção ao patamar mínimo exigido, que é 2% do ISS para o Centro. Reduz o IPTU para todas as empresas que investirem e para as que já estão no Centro. Empresas que reformarem a sua fachada e, principalmente, que valorizem o Art Déco, também serão beneficiadas.

Como está a contribuição da Fecomércio?

Nós, do Sistema S, temos feito investimentos. Os nossos imóveis no Centro estão sendo reformados e readequados para valorizar a região. Fizemos uma parceria com o Cine Ritz, que está estimulando as pessoas a irem ao cinema e, consequentemente, usarem o Centro. O empresário fica aguardando a ação do poder público para poder investir. Porque não existe forma de o empresário investir se faz as contas e no Centro ele perde. O terreno é mais barato? É. Mas o custo construtivo é o mesmo, seja o empreendimento que for. Mas lá não tem o público porque está abandonado.

É possível colocar o Centraliza em prática em pleno ano eleitoral?

É o nosso receio. Por isso defendemos que esse projeto, que está denominado Centraliza, não seja um projeto de governo, mas um projeto de Estado. Que não seja para essa gestão, mas que seja para Goiânia. Vamos defender isso com todos os candidatos: para que o próximo prefeito tenha o compromisso de manter o projeto, porque só assim vai melhorar.

A Fecomércio já tem levantamento sobre os prejuízos para os lojistas com a decadência do Centro?

Nós não temos um levantamento apurado sobre este prejuízo. Mas existe, principalmente do patrimônio imobiliário. O Sindilojas, um dos sindicatos filiados à Fecomércio, fez uma pesquisa dos imóveis desocupados na região central e da 44 e chegou a um número próximo de 2 mil unidades em oferta no Centro.

Não dá para pensar em uma capital sem investimentos em tecnologia.

Qual deve ser o ponto principal que o próximo prefeito deve priorizar?

É difícil falar de somente um ponto principal. Uma coisa é certa. O prefeito eleito precisará desenvolver e executar projeto de mobilidade urbana com tecnologia e inteligência. Não dá para a gente pensar que os semáforos de Goiânia são regulados analogicamente. Não dá para pensar em uma capital sem investimentos em tecnologia. É impensável uma capital do porte de Goiânia não estar fazendo investimentos em inteligência artificial para começar a resolver as demandas.

E a área social?

A prefeitura também vai ter que investir muito na área social. Fala-se em 10 mil crianças que esperam vagas em creches e CMEIs. Isso é inconcebível em uma cidade do porte de Goiânia. A gente não pode pensar em fazer asfalto se a gente não consegue colocar as crianças dentro de um CMEI para que os pais possam trabalhar. Não adianta falarmos em geração de emprego se não tivermos mão de obra qualificada. O próximo prefeito de Goiânia vai ter que investir em mobilidade urbana, social e muito em gestão.

Os empresários reclamam da burocratização em todos os níveis da administração governamental. Isso teve um avanço ou não?

Temos que avaliar as esferas, porque o federal, o estadual e o municipal são tratativas diferentes. Nós temos alguns prefeitos em Goiás que investiram para desburocratizar e simplificar os processos dentro dos órgãos municipais. Isso é necessário para atrair investimentos. Qualquer empresa, principalmente multinacional, quando quer fazer investimento, a primeira medida é avaliar o custo Brasil.

Tivemos mudanças em Goiás?

Em Goiás, tínhamos um problema muito crônico na área ambiental em relação à obtenção de licença no Estado. Tem uma legislação nova que modernizou essas condições. Atos de pequeno impacto passaram a ser declaratórios. Ou seja, a licença é praticamente automática. A medida ajudou a destravar muitos empreendimentos.

E no governo federal?

O ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, ajudou a desburocratizar muitos processos, tornando-os mais simples e mais ágeis. Mas, de uma forma geral, o Brasil ainda é um país onde se gasta muito na burocracia e na gestão.

A reforma tributária nunca teve como foco principal a redução da carga de impostos.

A simplificação das obrigações tributárias melhorou?

A reforma tributária nunca teve como foco principal a redução da carga de impostos. Lógico, todo segmento empresarial quer pagar menos tributo. Defende a simplificação e a redução no tempo gasto com as questões tributárias. A reforma tributária promete isso. Mas, no primeiro momento, vai complicar porque as empresas vão ter que levar duas contabilidades paralelas até que uma seja retirada e a outra continue. Então, vamos ver como vai ser essa transição.

Quais são as prioridades para o Sesc e o Senac?

Temos dois lemas. O primeiro é fazer mais com menos, melhor e mais rápido. Esse é o lema da nossa gestão. E o lema do Sistema S (Sesc e Senac) que é ser instrumento de mudança de vida das pessoas. Então, qualquer ação do Sesc e Senac tem que ter esse foco. Nós passamos a investir em gestão para melhorar as estruturas dos nossos prédios, mudar também a cultura organizacional, já que estávamos com pensamento de funcionário público.

Então, trouxemos a cultura do empresário. E também muito investimento na área de recursos humanos, treinamentos, palestras, motivacional e organizacional. Nessa etapa, conseguimos, praticamente, cumprir o que nós queríamos: gestão e requalificação da equipe, para que ela tenha uma visão mais empresarial do negócio.

Os prédios passarão por reformas e processos de requalificação?

Nesse momento, nós continuamos fazendo investimentos na requalificação dos nossos prédios, que são muito velhos. Temos hotéis com mais de 40 anos, temos prédios com 30 anos e, às vezes, isso não é adequado até para as exigências legais de hoje. Então, nós estamos com um grande projeto de reforma das nossas unidades. No momento, estamos executando a reforma das unidades Elias Bufáiçal e Cora Coralina. Estamos abrindo o processo licitatório para requalificação do clube do Sesc Faiçalville, hotéis de Caldas Novas, de Pirenópolis e o Vila Boa.

O Sesc Cidadania também passará por reforma?

Claro. Para mim, é a joia da coroa. A educação para nós é muito importante. A gente só muda uma região, um povo, uma cidade, se tiver educação. Sem educação não chegamos a lugar nenhum. Então, serão investidos este ano recursos da ordem de R$ 250 milhões, com apoio da Confederação Nacional do Comércio. Já estamos preparando o planejamento para depois realizamos as melhorias dos prédios.

Ao final da nossa gestão, daqui a três anos, pretendemos entregar todo o nosso sistema em Goiás reformado na gestão, no corpo de funcionários e nas suas estruturas físicas. Não estamos preocupados em crescer, mas sim em prestar melhores serviços. Queremos deixar claro que o nosso foco é o comerciário, quem trabalha no comércio.

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