quarta-feira, 9 de outubro de 2024
Custo Brasil chega a R$ 1,7 trilhão

Custo Brasil chega a R$ 1,7 trilhão

Economistas apontam que financiamento, impostos, logística e capital humano são os maiores desafios para empreender no Brasil.

16 de julho de 2023

Empregar capital humano, dispor de infraestrutura satisfatória e financiar o negócio são os principais desafios para empreender no Brasil. Juntos, eles respondem por 52% do Custo Brasil, que chegou a R$ 1,7 trilhão em 2022. Segundo relatório divulgado pelo Movimento Brasil Competitivo, em parceria com o governo federal e organizado por pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Esse custo representou 19,5% do PIB do país em 2022. São 12 indicadores que ajudam a entender os maiores obstáculos enfrentados por empreendedores. O aumento do custo total para honrar tributos, provocado pela complexidade tributária e a informalidade, é o que mais chama a atenção do economista Cláudio Henrique Oliveira, analista econômico da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg). Ele analisou o estudo a pedido do EMPREENDER EM GOIÁS.

“É um índice que aumentou. Principalmente pela complexidade tributária, apesar de não ter havido uma elevação da carga de tributos”, avalia Cláudio. Ele acrescenta que isso se torna mais complexo devido às obrigações acessórias.

Crédito

O custo do financiamento do negócio também aumentou e, na opinião do assessor econômico da Fieg, torna-se ainda mais desafiador diante das taxas de juros praticadas no país, que ele considera “extorsivas”. “Está praticamente inviável buscar capital para financiamento de bens e serviços”, pontua.

Cláudio acrescenta, no caso de Goiás, os aumentos de encargos: a contribuição para o fundo Protege, que passou de 5% para 15%, e a criação do Fundeinfra, mantido com a chamada “taxa do agro”. “Tudo isso no cenário de juros majorados, em que o financiamento pelo FCO, de 14% ao ano, é alto”, acrescenta. O custo do financiamento no Brasil é de R$ 260 bilhões, aponta o estudo.

O economista Luiz Carlos Ongaratto adiciona à equação o elevado custo logístico. “Não temos uma malha logística eficiente para tornar nosso produto competitivo”, aponta. “Tanto na perspectiva de infraestrutura como de habilidade e mão de obra, ficamos com esse problema. Se tivéssemos mão de obra mais capacitada e fosse um problema apenas de infraestrutura, poderíamos conseguir resolver alguns problemas”, observa.

Conforme o documento, o custo anual para empregar capital humano no Brasil é de R$ 360 bilhões. Dispor de infraestrutura custa R$ 290 bilhões.

Ongaratto observa que em todos os indicadores, o Brasil está bem pior do que a média dos países desenvolvidos. Desde a média de dias de abertura de uma empresa até a complexidade do tempo gasto com questões tributárias, a complexidade de custos e litígios trabalhistas, além do capital. “Estes vão diretamente ‘na veia’ do empresário, também associado ao custo logístico”, pondera.

Além disso, a produtividade do trabalho no Brasil é muito inferior à média dos demais países. “Isso faz com que não consigamos ser competitivos, atrair investimentos, fazer inovação, produzir mais com menos, ficamos muito limitados”, conclui.

Reformas

Para Cláudio Oliveira, a reforma trabalhista instituída em 2017 no governo Michel Temer, trouxe reflexos positivos, como o aumento do número de microempreendedores individuais (MEI) e a prestação de serviços por pessoas com CNPJ. “São fatores em que avançamos”, analisa.

Agora, o país passa pelo avanço de uma reforma tributária, aprovada na Câmara dos Deputados e agora em tramitação no Senado. Trata-se de um projeto que não vai diminuir a carga tributária do País. “Ela trará uma simplificação, o que vai contribuir para o indicador de horas de trabalho no cálculo dos tributos e o que pode ser uma competitividade no longo prazo e diminuir a judicialização por essas causas”, avalia Ongaratto.

Custo Brasil

O Custo Brasil é composto por um conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem e comprometem novos investimentos. Além de piorar o ambiente de negócios. Criado a partir de estudo desenvolvido em 2019 pelo Movimento Brasil Competitivo, em parceria com o governo federal.

Por meio dele, foi mapeado o peso do custo adicional que as empresas brasileiras têm de desembolsar para produzir no país, em comparação com os países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

São indicadores em 12 áreas consideradas vitais para a competitividade do setor empresarial e comparados com o nível dos membros da OCDE. Veja os principais resultados abaixo.

Custo Brasil

  • Total: R$ 1,7 tilhão/ano
  • Abrir um negócio: R$ 19 bilhões
  • Financiamento: R$ 260 bi
  • Empregar capital humano: R$ 360 bi
  • Dispor de infraestrutura: R$ 290 bi
  • Insumos básicos: R$ 11 bi
  • Ambiente jurídico regulatório eficaz: R$ 210 bi
  • Integrar com cadeias produtivas globais: R$ 150 bi
  • Honrar tributos: R$ 310 bi
  • Acessar serviços públicos: R$ 70 bi
  • Reinventar o negócio: R$ 90 bi
  • Competir de forma justa: R$ 110 bi
  • Retomar ou encerrar o negócio: R$ 17 bi

Leia também: PIB brasileiro cresce e soma quase R$ 10 trilhões

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Não será publicado.