segunda-feira, 29 de abril de 2024
Concorrência com sites estrangeiros prejudica lojistas, diz FCDL

Concorrência com sites estrangeiros prejudica lojistas, diz FCDL

Presidente da FCDL-GO diz que lojistas goianos enfrentam dificuldades, mas mostra otimismo para 2024. Confira nesta entrevista exclusiva.

30 de março de 2024

Valdir Ribeiro: “A reforma tributária é um sistema complexo ainda a ser compreendido na plenitude por todos nós”

O presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Goiás (FCDL-GO), Valdir Ribeiro, afirma que a “concorrência desleal” com grandes sites de comércio eletrônico estrangeiros causa prejuízos aos lojistas. Cita também a dificuldade dos empresários em encontrarem mão de obra e terem acesso às linhas de financiamento.

Em entrevista exclusiva ao EMPREENDER EM GOIÁS, Valdir Ribeiro manifestou esperança que o projeto Centraliza se concretize e recupere “a pujança que o comércio do Setor Central teve nas décadas passadas.” Sobre o atraso das obras de mobilidade em Goiânia, o presidente da FCDL-GO frisou que já cobrou da Prefeitura a conclusão o mais rápido possível. Confira os principais trechos da entrevista.

As vendas dos lojistas no ano passado não recuperaram as perdas da pandemia, segundo o IBGE. Quais são as expectativas para 2024?

Apesar de o varejo estar ainda se recuperando do tombo na pandemia, o comércio varejista goiano fechou 2023 no azul, com alta nas vendas de 0,7%, segundo dados também do IBGE. Em geral, as expectativas são positivas. Considerando o cenário atual, de inflação mais controlada, de quedas recorrentes na taxa básica de juros e de recuo nos índices de inadimplência, além do aumento na empregabilidade. Estamos confiando na manutenção desse quadro para superar neste ano, em Goiás e no Brasil, o fluxo de vendas da era pré-pandemia.

Quais as maiores dificuldades que os lojistas enfrentam na atualidade?

A concorrência desleal com grandes sites de comércio eletrônico estrangeiros, que não são taxados com a mesma carga tributária das empresas brasileiras. É uma das principais dificuldades que enfrentamos no momento. Outro gargalo é a dificuldade de encontrar mão de obra, o que acaba atrasando os planos de expansão das empresas. Sobram vagas no comércio varejista. Além disso, os lojistas estão tendo de se adaptar à chamada experiência omnichannel. Que é a possibilidade de o consumidor interagir com as marcas em seus canais on e off-line de forma personalizada, se sentindo em casa, confortável em quaisquer desses meios. É uma condição que as lojas do comércio varejista tendem a alcançar em médio prazo, atendendo às novas demandas do consumidor.

O empresário lojista tem conseguido acesso fácil às linhas de financiamento?

Ainda não, mas é uma bandeira que nós temos defendido enfaticamente junto ao FCO e aos demais organismos públicos de fomento ao setor produtivo. Não é raro a gente ver novas linhas de financiamento sendo lançadas. Isso é bom, mas precisamos garantir o acesso das empresas a essas linhas de crédito. O que depende muito da derrubada de barreiras burocráticas que não só atrasam o processo, como distanciam as empresas da possibilidade de contratar o financiamento.

O consumidor goiano é um devedor contumaz?

Não podemos dizer que é um devedor contumaz, mas que enfrenta dificuldades, como qualquer consumidor no Brasil. As estatísticas do SPC Brasil mostram que, na verdade, o consumidor goiano tem se esforçado para colocar as contas em dia e, claro, voltar a ter o nome limpo na praça. Em janeiro deste ano, por exemplo, o número de consumidores goianos inadimplentes caiu -2,24%, em relação a janeiro de 2023. Enquanto isso, a inadimplência cresceu tanto no Centro-Oeste como no Brasil.

O que a FCDL tem feito para a redução da inadimplência em Goiás?

A inadimplência é um problema não só do setor produtivo, da iniciativa privada, como também do poder público, haja vista o descalabro que isso causa na economia. Por isso, como instituição classista, nós temos interagido com autoridades da administração pública para sugerir e colaborar em iniciativas de estímulo à renegociação de dívidas, como o próprio programa Desenrola Brasil. E no relacionamento com as CDLs, estamos sempre conectando as Câmaras de Dirigentes Lojistas às soluções do SPC Brasil, que oferece serviços destinados à prevenção da inadimplência, entre outras ferramentas.

Quais os prejuízos que o setor tem sofrido com a cobrança do Difal (Diferencial de Alíquota do ICMS)?

O Difal, além de aumentar a carga tributária das empresas, prejudica a competitividade no setor produtivo, por conta das diferenças nas alíquotas do ICMS entre os estados. Não existe almoço grátis e a cobrança do Difal não foge à regra: essa diferença acaba sendo repassada ao consumidor. Sem o Difal, poderíamos oferecer ao consumidor mercadorias com preços mais atrativos e vantajosos. Mesmo assim, os lojistas se desdobram para atenuar ao máximo o repasse dessa diferença.

A FCDL já fez levantamento sobre os impactos da reforma tributária para o setor do comércio? Quais são eles?

A reforma tributária é um sistema complexo ainda a ser compreendido na plenitude por todos nós. Estamos avaliando ponto a ponto para dimensionar os possíveis impactos para as empresas.

E os reflexos para o consumidor?

Haverá, sim, reflexos para o consumidor. Mas nós, assim como outras entidades representativas do setor produtivo, ainda estamos estudando a matéria para calcular esses impactos.

“Muitas fecharam as portas nesses últimos anos por conta do atraso, por exemplo, no BRT”

Quais os efeitos para o comércio do atraso das obras de mobilidade urbana em Goiânia?

Quando uma região é isolada para alguma intervenção, isso já faz o consumidor pensar duas vezes em sair de casa para enfrentar o transtorno de fazer desvios, ficar parado em congestionamentos ou andar o dobro para descer no ponto de ônibus mais próximo. Agora, imagine essa situação perdurando durante meses ou até anos. As empresas não conseguem resistir a essa situação, sofrendo prejuízo atrás de prejuízo. Muitas fecharam as portas nesses últimos anos por conta do atraso, por exemplo, no BRT. Estamos cobrando da Prefeitura de Goiânia que conclua essas obras o mais rápido possível.

O senhor ainda acredita na revitalização do Centro de Goiânia?

O Centro de Goiânia está numa situação de abandono que, sinceramente, nos angustia muito. Mas estamos agora na expectativa de que o projeto Centraliza saia do papel e seja concretizado. Com investimentos na melhoria do trânsito, do urbanismo, da sinalização de trânsito, da oferta de vagas de estacionamento público e de linhas de ônibus, além da iluminação pública, entre outros fatores. Precisamos recuperar a pujança que o comércio do Setor Central teve nas décadas passadas.

A entidade tem trabalhado para a capacitação dos lojistas empreendedores? O que tem sido feito?

Sim, temos trabalhado nisso contando com a parceria do Sebrae, onde a FCDL-GO tem assento permanente. No evento Encontro de Líderes Lojistas, por exemplo, onde reunimos CDLs de todo o estado, levamos palestras de alto nível, que repercutem os assuntos mais latentes no varejo. Assim, capacitamos os líderes das entidades para que eles repliquem em suas bases o conhecimento adquirido nas palestras. Ainda na parceria com o Sebrae, a instituição fica à disposição dos lojistas para enviar às empresas consultoras que ajudam os empresários a compreender melhor o seu negócio. E traçar estratégias que vão desde o marketing ao pós-venda e fidelização do consumidor.

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Wanderley de Faria é jornalista especializado em Economia e Negócios, com MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela FIA/FEA/USP - BM&FBovespa

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